CARTAS SÃO FLORES OU RAÍZES?

Aos setenta, ainda carrego em mim os defeitos da inquietação e da agonia. Por esta razão, longas mensagens acaso havidas, em subliminar, são penosas para quem toma e as absorve como elemento de reflexão circunstancial. Tomo consciência de que o tempo fez os seus estragos. Só não sei, quando chegar a hora, quanto tempo o novo invólucro terá de esperar para voltar a este plano. Durante este período de mutismo, possivelmente alguém falará por mim, fruto de outras inquietudes. Porque é impossível que alguém não as tenha. Por esta razão central e óbvia, é que tenho de contar histórias, prosas e poemas e seus prováveis detalhamentos: o que foi visto e o que se deduz. Talvez algum outro néscio acredite no tal retorno e aproveite para ler e apontar obscuridades nos fatos, atos e gestos protagonizados. A palavra fácil do escriba pode vir a denunciar arrependimentos. Porém, em verdade, é algo que o tempo se encarregou de forjar como possíveis verdades. E será passível de ser colocada a lápide: aqui jaz o que fez história ao seu tempo de palavras soltas: ideias por primazia. Creio menos nas flores do que nos tubérculos, porque não são vistos. Nem louvados, sem que bem haja o trabalho de abrir a cova na terra fértil dos também inquietos vermes...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015/17.

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/5939192