O dia em que quase morri
Há poucos dias eu comentava com o amigo Mozaniel, aqui do Recanto, que com a fragilidade da vida humana, é um verdadeiro milagre que tantos consigam sobreviver a todos os perigos que nos cercam e chegar à vida adulta e até à velhice. Podemos nos comparar a uma vela acesa que um vento mais forte pode apagar a qualquer momento. Naquela ocasião prometi que postaria aqui um dos perrengues por que passei em minha juventude, e como promessa é dívida aqui passo a narrar o acontecido.
A Rua Tavares de Lira no bairro da Ribeira, aqui em Natal, termina num pequeno ancoradouro, às margens do rio Potengy, de onde partiam os barcos e lanchas que faziam o transporte de passageiros para a praia da Redinha, que fica diagonalmente a poucos quilômetros, do outro lado do rio. As crianças costumavam, eu inclusive, tomar banho neste local. Em uma destas vezes, talvez por exibicionismo, segurei-me na lateral do barco e peguei carona até quase o meio do rio. Com as velas enfunadas o barco foi ganhando velocidade e a água começou a cobrir o meu rosto impedindo-me de respirar. A uns trezentos metros da margem já estava quase largando o barco quando alguém me pegou pelo braço e me retirou da água.
Até aí eu estava empolgado com a aventura e me deixei levar. Chegando à praia aproveitei para tomar banho e descansar na areia. Só então me toquei que estava de calção e não tinha um centavo no bolso. Como iria pagar a passagem de volta?
Analisando a situação concluí que a única saída era voltar a nado. A maré estava enchendo e a correnteza me daria alguma vantagem, por que iria levar-me na direção desejada e assim só teria que atravessar o rio. Com muito medo iniciei a travessia. Quando estava no meio do rio notei que a água estava ficando muito fria, era o que chamam de canal, lugar de maior profundidade por onde passam os navios. O medo aumentou, principalmente depois que um peixe de bom tamanho pulou bem perto, o que poderia significar que um peixe maior o estava perseguindo.
Havia resolvido que iria sair no Canto do Mangue, no bairro das Rocas, onde existe um mercado de venda de peixes, mas quando me aproximei vi muitas pedras, cobertas de mariscos que poderiam me cortar. Entre este ponto e o local do ancoradouro para onde eu queria regressar fica o porto, com enormes navios ancorados. Eu ouvira dizer que grandes peixes costumam ficar ali se alimentando dos resíduos e restos de comida jogados dos navios, então a saída foi me afastar da margem e fazer uma curva em direção ao ancoradouro, aonde cheguei, mais amedrontado do que cansado.