(O) Baú de Lair
-- Senhor, achei teu chapéu.
-- Grato. Esperas, pelo que vejo, por alguma recompensa, não?
-- Discordo do Cavalheiro. Apenas desejo devolvê-lo. Sem maiores intenções além desta. Eu garanto. Tens minha palavra.
-- A palavra de um estranho. Em meio a uma multidão que passa pelas vias públicas, fracionada em grupos de pessoas e eventualmente em indivíduos que limitam-se a transitar, envoltos em seus pensamentos de natureza diversa. O que os faz ignorar, por certo, o mundo à sua volta. A palavra de um estranho. Sim. A palavra de um estranho. Como garantia.
É um dia estranho esse, Meu Caro. Saí de casa disposto a me livrar de todos os meus problemas. Caminhava eu rumo à Ponte. Desejoso de, ao precipitar-me nas profundáguas calmas, alcançar o descanso eterno. A PAZ do postmortem. Ser embalado pelo véu do Silêncio Total. E, nesse périplo nada usual, perdi meu chapéu. Que me foi entregue pelo Cavalheiro. Coisa mais estranha essa. Não?
Há lama sob o chapéu, Cavalheiro. Mas não o podes vê-la. Permanece subjacente ao meu crânio. Ocupa um lugar em minha mente. Inquieta meu coração, tão atribulado nessa época de transição estacionada.
Devo dizer, por outro lado, que a singular atitude do Cavalheiro me levou a repensar minha atitude.