ecordações e a Vida Presente



Nossa...quando era menina sonhava em crescer...inveja minhas tias, pois as achava as mulheres mais lindas do mundo. As roupas vistosas, as saias de imensos godês que elas abriam até o alto da cabeça (que dinheirão só de saia, cruzes) que eu achava lindo! Pode? Pode. Eu achava lindo os saltos altíssimos e elas se equilibrando , dançando para me satisfazer...e com o passar do tempo não perdi a admiração por elas, não, mesmo elas tendo se mudado para o outro lado.
Nas férias escolares meu pai me levava para passar uns dias lá com elas. Quando elas iam trabalhar eu me esbaldava. Tirava as roupas do guarda-roupa, sapato da sapateira e desandava a desfilar pelo quarto, sala, casa toda, imitando a duas Tia Janete e tia Maria. Quantas vezes quase quebrei o pé ao torcer ou virar o pé...Tudo bem escondidinho delas. Só minha avó ria, balançando a cabeça branquinha e rindo da minha estripulia.

Mas o tempo passou e...eu cresci. Cresci um pouquinho só. Sou baixinha (quase anã - uma amiga que diz que eu me sento na gilete e ainda balanço as pernas – quanta maldade! (Não é preconceito, discriminação? Vou dar queixa no Conselho Tutelar.) Fico possessa, mas fazer o que? Não cresci como queria. Será que a inveja me prejudicou o crescimento? Dizia minha mãe que se a gente tivesse inveja de alguém a gente ficava pior que o invejado. Meu Deus me perdoe! Não era maldade, não, queria ser bonita apenas. Elas eram lindas, pareciam artistas de cinema – daquela época – só um pouquinho lá atrás,- década de 50- nada muito longe).

E lá vai o tempo me deixando mais velha ...mas sem crescer mais. Parei de crescer! Aos doze parecia de dezoito. Aos dezoito parecia de doze anos. Que confusão! Mas o tamanho não impediu que eu aos quatorze anos começasse a trabalhar, a estudar, e me formar professora. No curso Normal encontrei uma moça menor que eu. Que felicidade! Pararam “tirar onda” com meu tamanho. Diga-se de passagem que ele não impediu que eu me encontrasse com um tal moço – Edson – que por ele me apaixonasse e, lógico, ele por mim – e nos casássemos no fim da década de 60. O tamanho também não foi embargo para eu engravidar e ter quatro filhos, um marido, minha profissão e uma casa para cuidar.

Ser profissional com quatro filhos pequenos é uma barra do tamanho do mundo. Ainda bem que o meu tamanho também não impediu que eu segurasse o mundo nas mãos. Amamentar, dar papinhas, trocar fraldas, lavar pratos, arrumar os quartos, preparar aulas, corrigir provas. Que sufoco...louco. Eu me equilibrava igual o equilibrista da Elis Regina, na corda bamba.

Quanta “bronca” levei por faltar às aulas porque meus filhos não tinham com quem ficar. Às vezes eu tinha senhoras para cuidar deles (os quatro têm diferença pequena de idade, dois anos) às vezes tinha que levar para a casa da avó, pois a empregada chegava sempre atrasada e eu já tinha perdido o dia. Eu chorava...
Sentava no chão e chorava...a empregada chegava e me encontrava naquela choradeira, pedia desculpas... e dias depois a mesma coisa.... e outra vez.... até que eu despedia. E daí? Criança pequena não fica sozinha. Faltava. Levava bronca de novo. Naquela época se você chegava atrasado cinco minutos podia voltar que não trabalhava mais. A substituta já estava na sala e não podia sair mais nem que quisesse. Mas....

O tempo passou e fui me organizando, chorando... Descabelando-me...fiz faculdade. Trabalhando, cuidando do marido que é ótimo até hoje, da casa, dos filhos adolescentes e adolescendo...
Uma vitória e tanto. Mas ser dona de casa, mar e trabalhar fora e missão quase impossível. A mulher deve ser muito valorizada por isso, pois consegue dar conta do recado, sempre. É muito desgastante, não se tem ânimo a partir das oito da noite. Os pontos já estão entregues. Isto se ela não trabalhar também no período noturno (fala das professoras) ou das que têm atividades autônomas (costureira, lavadeiras, manicuras, etc.) cujo tempo é mais amplamente ocupado. Como é difícil a gente ser bom bril, ter mil e uma utilidades...Sim, porque ser mãe já é ser psicóloga, nutricionista, dentista, pacifista (eles brigam e você tem de os pacificar) outras vezes juiz de luta livre, pacífista (é o exemplo) ....Acumulada á função de professora...Dói! Dói muito! Você não dorme , porque eles vão dormir e você vai por a desordem em ordem, por poucas horas. Guardar brinquedos, por poucas horas... passar as fraldas de madrugadas, de manhã sair depressa fugindo para não haver choro...

Mas o tempo passa...passa tão rápido que as marcas do trabalho quase passam despercebidas, não fossem as dores nas costas, lumbagos, colunas arriada, desviada etc, etc, etc..as crianças crescem. E as minhas cresceram. Como cresceram! Preciso levantar a cabeça para olhá-los. Parecem gigantes. Cada crianção , que se transformaram em moções!

O tempo passou, eles se tornaram cônjuges, têm seus filhos... e o ciclo se repete.
Eu fico com a neta para a mãe trabalhar. Pode? Pode. Mãe é...ser feliz sempre! Tudo valeu a pena e valerá sempre, mesmo que trabalhoso. O importante de tudo é ter o amor de todos para que possa vencer todos os obstáculos que não são poucos, não.

O tempo passou...Não testou lamentando nem o que passou nem o que veio. São lembranças que marcaram minha vida pela exigências que me impus, pelas escolhas que fiz. Tudo tem uma conseqüência, seja boa ou desagradável. A vida que tive e que tenho não podia ser outra, nem melhor. Foi a vida que eu devia viver, que fez com que melhorasse em paciência, em tolerância, em compreensão , porque nada é por acaso. Aliás não cai uma folha ao chão sem permissão de Deus. Então me sinto realizada e cumprimento todas as mulheres que têm várias atividades, profissões no dia-a dia, pois são mulheres que se dispuseram diante da Divindade a evoluir, e fazer a evolução de outros seres a ela subordinados pelos cuidados e educação. Mulheres que trabalham fora de cada TAMBÉM, são mensageiras da espiritualidade. Meus parabéns e por conseguinte a mim também, não é?