Este lobo intangível do homem
O homem magro, envelhecido, trajando paletó marrom de modelo há muito fora de moda descia a rua na tarde morna. Por um momento, sentindo-se fatigado, parou para limpar o suor do rosto e, ao executar este movimento breve, lembrou-se de um outro tempo distante em que sulcara a terra, semeara a terra e de todos os canteiros colhera fartamente. O suor então era outro. Era o suor de um homem feliz, básica e intrinsicamente feliz.
Alguns conhecidos subiam a rua em sua direção, pensou em comentar fatos passados mas de antemão sabia que não lhe dariam atenção; agora era só um velho surdo.
Seguiu seu caminho com o pensamento ainda voltado para este outro tempo longínquo em que ainda não conhecia, este lobo intangível do homem, a solidão.