EM DEFESA DOS ANIMAIS

UM GATO QUE PODERIA CHAMAR-ME BARTOLOMEU

Nelson Marzullo Tangerini

Roberto, um amigo do antigo Científico [agora Ensino Médio] contou-me a triste história de seu gato voador.

O felino, ainda pequeno, foi amarrado a um barbante e este barbante foi amarrado a um balão junino. O barbante deveria romper-se com a explosão de uma bomba e não rompeu. E o pobre do gato fez uma enorme viagem pelos céus do Rio de Janeiro e foi cair no Méier, até então um pacto bairro do subúrbio do Rio, onde todos queriam tascar o balão.

Roberto avistou de longe um animal pendurado e fez com que todos se acalmassem e não atirassem pedras no balão, uma vez que o pequeno felino estava assustadíssimo.

Roberto, também amigo dos animais, acabou por adotar o Bartolomeu de Gusmão dos gatos, que viveu uma vida tranquila em sua casa, embora arredio e de pouca conversa, até o fim de sua existência. Teve uma vida feliz e pacata e, na velhice, foi paparicado pelo seu dono.

No dia 15 de agosto, levei Spinoza, meu cão, ao veterinário da Prefeitura, no Engenho de Dentro, subúrbio do Rio, para tratar de uma sarna que o incomodava há muito que nenhum outro veterinário não curava. Esperei pacientemente a vez de Spinoza, enquanto ele latia para outros cães e para os gatos.

Quando chegou a vez de meu cão, uma atendente pediu ao veterinário para tentar salvar uma cadelinha que estava muito mal. Perguntou-me se concordava e eu disse que sim. A cadelinha, que foi jogada dentro de um rio do Encantado, foi trazida por um rapaz dentro de um carrinho de mão. Ela não tinha mais forças para andar e apenas nos olhava, com seus olhinhos tristes. Todos que estavam no local choraram emocionados, porque ela passou três dias dentro do rio, até aparecer aquele rapaz de alma nobre. Todos torcíamos por ela, mas ela, infelizmente, não resistiu a todo aquele sofrimento.

Muitos gostam de animais enquanto eles são jovens. Quando eles começam a dar trabalho ou ficam doentes, tratam de deixa-los em qualquer lugar, sem se importar com o sentimento que eles têm por nós.

Certa vez, no centro de Niterói, vi um cidadão, de carro, deixar uma pobre cadela na rua. Ela correu atrás do carro, mas não pôde mais alcança-lo.

E quantos cães tenho visto vagando tristes pelas estradas, pensando ainda reencontrar seus donos?

O jeito é fotografar esses animais que se dizem racionais e denunciá-los nas redes sociais.

Nelson Marzullo Tangerini, 61 anos, é escritor, compositor, jornalista, fotógrafo, compositor e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro da ALB, Academia de Letras do Brasil, e da UBE, União Brasileira de Escritores.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 10/03/2017
Reeditado em 21/08/2017
Código do texto: T5936354
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