Laços com a gente mesmo

Eu acredito que somos constituídos como indivíduos através do contato com o outro, cujo olhar deposita valor na nossa existência ao nos reconhecer e nos aceitar. E obviamente que isso se dá através do contato de verdade. No sentido de toque. Eu não consigo falar disso sem lembrar da concepção de laços humanos do Bauman, onde muito já se esclareceu sobre a necessidade humana de ser visto para se sentir existindo. E em como as redes sociais “suprem”, de forma momentânea, essa carência.

Seria até um pouco hipócrita se eu levasse isso para o lado crítico. Muito já se lê sobre isso.

A selfie – que já foi um autorretrato – ela chega as beiras de uma súplica, e a minha reflexão é observar a necessidade humana da autoafirmação e aceitar o quanto esse processo é natural. Há momentos em que precisamos ser constantemente lembrados das nossas qualidades porque elas simplesmente caem na parte obscura de nós.

De repente sentimos que o lugar mais estranho pra se estar é dentro de nós mesmos e precisamos sentir que a existência é mais ampla que isso. E existir, para além da racionalidade encontrada na filosofia, é simplesmente permanecer.

Sim. Todos precisamos de estímulos vez ou outra. E isso tanto pode vir dessa solidão assistida quanto da amenização das nossas frustrações através de elogios. Claro muitos até superficiais e aqui entra nosso cuidado.

Não devemos cair na armadilha da satisfação momentânea nem termos a vida resumida à uma “time line” ... mas repito, minha reflexão é mais pelo caminho da solidariedade que da crítica.

É natural nossa necessidade de dizer pro mundo e até para nós mesmos que ainda estamos aqui ... EXISTINDO. E mesmo que inconscientemente queremos PERMANECER.

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Apesar de.

#posteumaselfie

*Textos de Quinta - Para fugir da responsabilidade.

Um a cada quinta. Não é promessa, é desejo =)

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 09/03/2017
Reeditado em 09/03/2017
Código do texto: T5935784
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