Dia 8 de Março de um ano qualquer – Dia Internacional da Mulher

A igualdade de género, na verdade, tem muito que se lhe diga.

Um caso típico é a história dramática de Camille Claudel – cuja vida decorre entre as datas de 8 de Dezembro de 1864 e 19 de Outubro de 1943. Uma história extremamente próxima da minha, pois Camille Claudel morreu apenas um ano antes do meu nascimento.

Era irmã mais velha do poeta e diplomata Paul Claudel.

Quanto a Paul Claudel, não sei se ele foi um poeta que para ganhar a vida com gabarito se meteu na Diplomacia, ou se era um diplomata que versejava nas horas vagas.

Porque apesar de se tratar de um poeta que nos deixou escritos de alta espiritualidade, eu considero-o destituído de coração.

Camille Claudel foi revelando algumas dificuldades de comportamento. No seu tempo a psiquiatria estava embrionária... Lembremos que o próprio Freud só era mais velho que Camille uns escassos 8 anos – Freud nasceu em 1856. E nessa época, se uma mulher perturbava, o remédio podia ser simplesmente o internamento num hospício. Isso foi bem documentado na novela brasileira “Lado A Lado” – havia muitas formas de incomodar, e uma delas era o exercício de uma actividade artística. Menos de um século antes, Jane Austen (1775-1817) não assinava os seus livros. George Sand, uns escassos 60 anos antes de Camille, optou por assinar a sua obra com pseudónimo masculino.

E Camille Claudel perturbava demasiado. Porque sendo menina de uma família de católicos pergaminhos, era escultora, e ainda por cima envolveu-se seriamente com o grande Auguste Rodin (1840-1917), mais velho que ela, e por sua vez com a estabilidade familiar mais ou menos organizada...

Foram Paul Claudel e a mãe de ambos quem colocou Camille num hospício, e segundo li numa biografia aqui na Net, sem sequer permissão de lhe fornecerem papel ou lápis que mais não fosse para se entreter... E as freiras do dito hospício, veneradoras e obrigadas, obedientemente, cumpriam a prescrição à risca.

Diz-se que quando por acaso pintava ou desenhava, ela mantinha-se calma. Mas o peso dos preconceitos falou mais alto. Esculturas e desenhos “realistas” podiam manchar a honorabilidade do irmão diplomata...

Com algumas variantes e talvez atenuantes, ainda se verificam histórias destas nesta transição do século XX para o século XXI. Quando penso nisto, nem sei bem se estremeço de horror, ou se me sinto grata ao Criador...

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© Myriam Jubilot de Carvalho

8 de Março de 2017

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Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 08/03/2017
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