Segundos de cor no mundo cinza
Parei no farol. Um rapaz e seus malabares. Eram facões os quais ele batiam um no outro. O som tilintava a cada batida. De repente no ar. E parecia magia. Não era o fato dos facões cortarem o ar. Nem os malabarismos que ele fazia. Mas a forma como ele estava envolvido. A forma mágica com ele conduzia tudo. Os segundos passaram lento enquanto eu observava. Cada giro e volta. E mais giros e mais voltas. Pelo ar. Sutil. Me perguntei como algo tão grosseiro como um facão poderia ser tão sublime naquele momento. Abri o vidro. E o rapaz terminado a sua apresentação reverenciava a plateia. Plateia que em sua maioria não prestava atenção. Estendi a mão com 2 reais. Olhei no fundo dos olhos dele e disse - Obrigada pela sua arte, sei que vale mais mas é o que eu posso colaborar agora - ele me respondeu sorrindo - Obrigado pela sua atenção e gentileza, feliz dia das mulheres, mas todo dia é seu. E se foi. Voltou para a calçada. Os carros já aceleravam naquela dança tola de quem sai mais rápido. E eu segui. Agradeci.
Num mundo tão cinza tive o privilégio de poucos segundos de cor. De arte. De gentileza. De reciprocidade. A vida é sublime.