Bodas de Ouro
Nada acontece por acaso afirmam muitos. Estava escrito corroboram muitos outros.
Estou certo de que o encontro desses dois amigos, que os levaram ao casamento, bem como a celebração de suas bodas de ouro, estava escrito nas estrelas. Aconteceu para que os dois realizassem, como disse Kant: “a viagem da descoberta mais importante que o homem pode empreender”
De fato, o casamento tradicional, pelo qual os dois, por viverem o dia a dia a sós, são intensamente provocados a conhecerem a si e ao parceiro; são empurrados ao arrancar compulsório de disfarces e a se surpreenderem com descobertas aos borbotões.
Bodas deriva do latim “votum”, promessa, compromisso, que a cada ano é celebrado. Existe tradição de dar ênfase a algumas dessas celebrações, batizando-as com o nome de materiais. À medida que o tempo dessa viagem se alonga, o material vai se tornado mais nobre: bodas de papel, para a celebração de um ano de casamento; 5 anos, bodas de madeira; 10 anos, de estanho; 15 anos de cristal; 20 anos, de porcelana; 25 anos de prata; 30 anos de pérola; 40 anos de rubi; e 50 anos de ouro ...
Quem acompanha essa viagem dum mesmo casal, percebe nas celebrações dessas bodas sua evolução. Da característica de equilíbrio instável e da fácil combustão do papel, para o brilho, durabilidade e nobreza do ouro.
Percebe que tiveram êxito na caminhada, pelo fato do interesse e prazer em se conhecerem e pela reciprocidade de cuidados. Pelo fato de se respeitarem, não se tornarem inoportunos, quando a solidão é desejada e a grande admiração, quase orgulho, que um tem pelo outro: essa é minha mulher; e esse é meu homem.
Ventos que, também, sopraram a favor foram os de crescimento e fortalecimento de amizade ímpar, que possibilitou a cada crise, geralmente pelas transformações sofridas no percurso, um casar novamente. Para ilustrar essa salutar e doce disposição, afirmavam e continuam afirmando: “aproveitamos para renovar mossas bodas, toda vez que nos encontramos em algum templo, para celebração de bodas de casal amigo”.
Além disso, construíram o saber de que o tempo, inexoravelmente, nos conduz, nos promove a novas realidades e, o casal deve viver cada realidade no seu devido tempo, pois não terá outra chance. E a tradição de qualificar, identificar as bodas por diversos materiais contém essa sabedoria.
Com o passar dos anos, aquela possibilidade, muitas vezes existente das bodas de papel, um ano, até a de madeira, cinco, de a relação ser consumida pelo fogo das paixões se reduz progressivamente com o arrefecimento do erotismo.
Aqueles que convivem com o casal amigo, sem muitas dificuldades, tem a percepção de que isso foi ocorrendo até que, agora, com as bodas de ouro, boas relações amorosas são alicerçadas nas afinidades, na admiração cada vez mais crescente, na amizade, num companheirismo de cumplicidades sem fim e na vivência de aconchego e paz.
Sim, o casal amigo, como o ouro de suas bodas, celebra união reluzente, bela, maleável, inoxidável, indestrutível, plena de valores e nobreza.
Nada melhor para caracterizar as bodas de ouro do casal amigo, do que os dizeres do agnóstico Pepe: “se existir reencarnação, certamente casarei de novo com Giovanna”.
O casal, como numa união mística, celebra as bodas de ouro com voto eterno de casarem tantas vezes quantas renascerem.
Como na lindíssima lenda amazônica, que celebra o amor, as bodas de ouro anunciam amor, que venceu a morte e renasceu num tambatajá.