O Dia Que é da Mulher. Será?
A vi pela primeira vez nos grupos de maturidade. Tímida e constrangida, andando pelos cantos, procurando esconder o seu corpo e as marcas da passagem pela vida. Com o passar do tempo, foi se dando conta de que aquele corpo vivido sempre foi seu e que, apesar de não ter percebido, ainda gostava dele.
Tempos depois nos encontramos. Já fazia parte do grupo de dança, solta, livre, deslizando pelo salão. Queria cortejar esse corpo que tanto bem a faz sentir.
Desde então, inventou, na sua firmeza, de querer ser gente moderna. Até estudos já tem! E mais, quer ser doutora, imaginem!
Quão longe está o outrora dos esquemas rígidos de comportamento transmitidos com cuidados pela avó e bisavó.
Alguém lembrou de lhe dizer que existe um dia no ano que é dedicado à mulher. Tornou-se reflexiva, que espaço é esse de tempo? Pertence ao passado e ao presente? Mas não vê necessidade dessa mulher tão atual comemorá-lo também.
Já não basta o que já tem?
Seus segredos de liberdade, de expressar a si mesma da maneira que quiser. Não dizem as outras, é o dia da cozinheira, da lavadeira, da faxineira e até da executiva de cabeça tão cançada, pois o dólar subiu tanto que já nem sente a orquídea dada em sua homenagem.
Mas somos todas assim, uma única nesse todo tentando se manter no espaço conquistado de fora e de dentro de casa.
Convém lembrar que esse dia é universal e, portanto, dos mais tradicionais. Quem sabe esse dia reflete o feminino do universo social já longe em sua existência, no qual a mulher tinha todas as prendas do lar, só não tinha seus direitos.
Tem também o outro lado que torna as coisas confusas. Como explicar esse dia Internacional para a mulher da pobreza, essa mulher tão escondida, tirando as coisas do nada, sem os gestos femininos de rendas tão delicadas, será que ela sabe que é o dia dela também? Será?