O FIO CONDUTOR DA IMBECILIDADE

Eu vi uma caminhonete sendo puxada por um menino e logo comecei a ficar preocupado com o futuro daquela criança. O que não havia dado certo na sua educação para explicar tal comportamento agora aos sete anos de idade? Pais, amigos da rua, más companhias... ah, algum programa de televisão... o Sílvio Santos... jogando aviõezinhos de cinquenta?! Eu não tinha respostas.

Sem dúvida, havia algo de nebuloso do seu pequeno passado, um grande mistério a ser desvendado, qualquer coisa que explicasse toda aquela encenação. Porque um ser humano de verdade, que em plena era digital possa assim ser considerado, não estaria ali, em êxtase total, dando todas aquelas voltas, fazendo aquelas curvas fechadas, desafiando as leis da gravidade com aquela caminhonete. Não.

E tome-lhe vai pra frente, vai para trás, puxa daqui, puxa dali, sai de lado, sobe ladeira, desce ladeira, para. Retoma, já acelerando, vai aumentando a potência da máquina, aumentando... aumentando... aumentando... quando, finalmente, capota. — O que foi que eu lhe disse, menino! — eu poderia falar isso se fosse o seu pai, mas nem o seu nome eu sei.

Só sei que vejo essa criança todos os dias quando vou trabalhar. Ando algumas quadras e... pronto, lá está ele: iludido, fazendo novas piruetas com o possante veículo na frente da sua casa que fica em um bairro pobre aqui perto, achando que aquele carrinho de plástico, que nem pilha tem, vai levá-lo a algum lugar. Vai nada, menino!

Masé Quadros
Enviado por Masé Quadros em 05/03/2017
Código do texto: T5930969
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