Os Cachorros Vão à Escola
 
Calma! Isto não é nenhum xingamento e nem crítica ao contemporâneo quadro da realidade da Escola Pública.
 
Talvez fosse ao quadro social em que vivemos.  Porque se de um lado temos a miséria humana como demonstra nossas ruas com os seus Sem Tetos e suas mendicâncias de outro temos os amparos absurdos aos animais. Calma! Também não estou dizendo que eles, os animais não devam ser amparados.
 
Estou apenas escrevendo observações concernentes aos animais, cachorros especificamente, e a Escola.
 
Em meus últimos dias na escola como professor  eu trabalhava em uma que não havia como conter todo Canis lupus familiaris. O portão era enorme e houve uma época que o muro de trás do estabelecimento caiu de velho e o governo foi moroso em enviar verbas para reparação. Com isto um ou outro cão se afoitava escola adentro. Os funcionários responsáveis tinham que enxotá-los.
 
Mas havia um destes vadios que conseguia ludibriar todos. Mas também não incomodava a ninguém. Chegava e deitava  à porta da sala de aula. Nenhum aluno se atrevia a identificar-se como dono do cachorro. E ali o cão ficava até a hora da merenda quando o pátio se enchia de adolescentes. O cãozinho se fartava das migalhas e depois nos últimos tempos de aula sumia.
 
Vi recentemente através de uma reportagem que em um Campus Universitário uma professora desenvolveu um programa de assistência a estes cachorros que apareciam na universidade. Eles eram cuidados e em contrapartida serviam como objetos de estudo para os alunos de Veterinária.
 
Assistindo TV uma propaganda se destacou para mim. O jargão utilizado para a mensagem principal dizia: “Quando um estudante vai à Escola toda a comunidade também vai.” E aí mostrava o padeiro empenhado em servir o pão ao bairro a tempo do aluno sair para a escola, o proprietário da papelaria em ofertar produtos de qualidade, o motorista de coletivos escolares sendo pontual, o porteiro da escola... a professora... a merendeira... e enfim todos os profissionais envolvidos na sistemática de um dia escolar.
Saí à rua para contemplar a avenida e sentir o clima matutino. A primeira visão que tenho é da escola vizinha de frente a minha residência. Olhei a avenida abaixo e lá vinha ele com seu passo cadenciado em direção à circunvizinhança do portão da escola. Quem? Algum estudante que perdeu o horário escolar? Não.
 
Era um cachorro todo branco com olheira de pirata e por isto muito distinto de outras pelagens de sua raça. Ele nas férias de verão não aparecera. Mas com a volta às aulas deste novo ano letivo ali ele estava marcando presença. Desde o ano anterior eu o havia percebido. Toda manhã por volta das oito horas ele fica na redondeza do portão da escola. Ou deita à sombra das casas ou debaixo de algum veículo. Quando o turno matutino acaba ele volta avenida abaixo seguindo o seu coleguinha humano que viera aprender convivências sociais.
 
Ao vê-lo chegar nesta manhã o estribilho de incentivo governamental aos estudos veio trazendo lembranças: “Quando um estudante vai à Escola toda a comunidade também vai.”
 


Literalmente até os cachorros do bairro também vão!


Leonardo Lisbôa
Barbacena, 21/02/2017


   
 

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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 04/03/2017
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