A CULPA É DO AMOR
Romper da madrugada, quase a aurora... Sozinho, bêbado, mas ainda bebendo, em sua casa, com o velho Rock'N'Roll de companheiro, uma última lata de cerveja teimando em acabar e com a paixão explodindo no peito!... Sono é luxo!! Vai acabando dos dedos tesos as últimas fagulhas do cigarro deprimido, espremido, torto, tal qual seu semblante. Conversa entre mensagens espúrias com uma presença insólita as consequências daquele momento decisivo, certeiro, corajoso, aquilo tudo acabaria naquele momento; ao seu lado, o monstro negro deitado na lápide fria descansa vazio esperando ser conduzido ao ofício, mas não se sabe se naquele momento existe realmente o corajoso a acordá-lo.
Uma mão involuntária se desfaz dos braços cruzados se dirigindo ao sujeito gélido, dele, totalmente sem emoções e pronto para a ação a emoção causa-lhe náuseas e nesse susto derruba o maldito câmbio que dispara o projétil ao tocar o chão.
No lapso do tiro, o estampido ensurdeceu o seu ouvido esquerdo, raspando-lhe ainda a orelha, atravessando o portão da garagem. Ficou naquele centro de confusão por bastante tempo e tentando entender como aquilo aconteceu e para onde teria ido tal vetor, ele vasculhou e investigou durante toda manhã os arredores de sua vizinhança, mas nada encontrou.
Passada uma semana, mais uma vez estava na mesma embriaguez, só que desta vez não mais na aurora, no crepúsculo e ao perceber a chegada de alguns de seus vizinhos achou estranho a retirada de uma cadeira de rodas, assim, muito intrigado, foi saber o porquê daquele objeto. Eles lhe disseram que era para a sua filha que tinha sido atingido por uma bala perdida há uma semana atrás, quando se levantava para ir à escola. Ninguém viu, nem soube de nada, não viram ninguém, nenhum movimento... nunca mais voltaria a andar.
Ele ficou em estado de choque, bebeu 3 dias seguidos até não conseguir mais, fumou tudo o que podia, ouvia toda a música que podia, chorou todas as lágrimas dessa vida e, por último, acabou todas as vidas que lhe restavam viver. A pessoa que havia sido atingida pela sua burrada perdida era justamente a garota dos seus dias de embriaguez, insônias, amores, solidão e sofrimento... e, agora, de Eternidade... quem sabe.