Gêmeas
O bairro onde moro tem uma certa magia.
Volta e meia, ao sair a passear com minha pinscher, algo novo se apresenta ao meus olhos. Inédito para mim, é claro, que em dias inspirados resolvo observar ao derredor com olhar de poesia, apesar de não ser poeta.
Bem no meio de um dos caminhos que costumo fazer, tem um terreno desabitado que não é baldio, pois cercado está e cuidado também. Tem bom tamanho, onde poderia ser construída uma ótima casa de residência, já que não é uma área comercial. É murado, a despeito de não ter portão, a grama está sempre aparada e tudo ali é limpo.
O que me intriga é o muro dos fundos que faz extrema com outra propriedade. Por incrível que pareça, ele me lembra o fatídico muro de Berlim que foi erguido como por encanto dividindo a Alemanha em duas como se um abalo sísmico em um instante tivesse aberto uma fenda gigantesca, deixando pessoas de um lado e de outro sem nunca mais poderem se ver. Esse muro não existe mais, mas eu falo daquele que está a duas ruas daqui. Construído com tijolos e simplesmente salpicado, já escurecido pelo tempo, remendado e tosco, este também separou famílias e amores. Elas estão lá, entrelaçadas, verdes, altaneiras e abraçadas para todos que queiram ver.
Pergunto-me se mais alguém prestou atenção no fato de que o muro separou as duas, certamente ainda crianças, e assim cresceram teimosamente até alçar a beira da edificação, sempre em direção ao céu, até se reencontrarem finalmente a cima para ir aos poucos se reconhecendo de novo, se tocando, se sentindo através de seus limbos e pecíolos, fazendo juntas a fotossíntese. Uma do lado de cá, a outra do lado de lá, numa teimosia que deve ter durado anos em busca uma da outra.
As duas árvores estão lá, enlaçadas, gêmeas, porque quando quer, a natureza encontra uma saída.
O bairro onde moro tem uma certa magia.
Volta e meia, ao sair a passear com minha pinscher, algo novo se apresenta ao meus olhos. Inédito para mim, é claro, que em dias inspirados resolvo observar ao derredor com olhar de poesia, apesar de não ser poeta.
Bem no meio de um dos caminhos que costumo fazer, tem um terreno desabitado que não é baldio, pois cercado está e cuidado também. Tem bom tamanho, onde poderia ser construída uma ótima casa de residência, já que não é uma área comercial. É murado, a despeito de não ter portão, a grama está sempre aparada e tudo ali é limpo.
O que me intriga é o muro dos fundos que faz extrema com outra propriedade. Por incrível que pareça, ele me lembra o fatídico muro de Berlim que foi erguido como por encanto dividindo a Alemanha em duas como se um abalo sísmico em um instante tivesse aberto uma fenda gigantesca, deixando pessoas de um lado e de outro sem nunca mais poderem se ver. Esse muro não existe mais, mas eu falo daquele que está a duas ruas daqui. Construído com tijolos e simplesmente salpicado, já escurecido pelo tempo, remendado e tosco, este também separou famílias e amores. Elas estão lá, entrelaçadas, verdes, altaneiras e abraçadas para todos que queiram ver.
Pergunto-me se mais alguém prestou atenção no fato de que o muro separou as duas, certamente ainda crianças, e assim cresceram teimosamente até alçar a beira da edificação, sempre em direção ao céu, até se reencontrarem finalmente a cima para ir aos poucos se reconhecendo de novo, se tocando, se sentindo através de seus limbos e pecíolos, fazendo juntas a fotossíntese. Uma do lado de cá, a outra do lado de lá, numa teimosia que deve ter durado anos em busca uma da outra.
As duas árvores estão lá, enlaçadas, gêmeas, porque quando quer, a natureza encontra uma saída.