MENINAS QUE FUMAM NÃO TERÃO FIM AGRADÁVEL...

Eu tinha 16 anos e havia aprendido a fumar no banheiro do colégio. Como não sabia tragar, ficava olhando num espelho enorme que havia na altura da pia, para ver se saía fumaça das minhas narinas.

Fico imaginando o que se é capaz de fazer por modismo. Todas as meninas da minha idade que estudavam ali fumavam. Porque eu não? Então fazia o sacrifício, matava aulas e ia treinar no banheiro. Tinha sempre uma amiga mais experiente que se dispunha a me ensinar como se tragava.

Eu achava elegante ter um cigarro nas mãos. Além do mais, era um símbolo de independência. E quando conseguia tragar então, era tudo! Me sentia poderosa: adolescente, atrevida, irreverente e fumante!

Um dia ao entrarmos no banheiro feminino nos deparamos com a frase: "Meninas que fumam não terão fim agradável". Me lembro que demos muitas gargalhadas! No auge da vida, não tínhamos porquê nos preocupar com o nosso fim, se seria ou não agradável... Queríamos mais era curtir a nossa adolescência e sermos felizes, sem maiores preocupações.

Essa frase ficou na minha cabeça, mais pelo fato de ter marcado esse momento peculiar da minha adolescência. Cabecinha vazia, se enchendo de nicotina e fumaça para fazer bonito.

Essa “curtição” pelo cigarro, mais por modismo do que por vício, ainda me acompanhou por alguns anos. Do banheiro do colégio aos bares e lanchonetes da moda foi um pulo. Depois, no banheiro do trabalho, na faculdade, nas viagens.

Eu era a típica “fumante social”. Aquela que acende um cigarro somente quando está em um lugar público, com o único objetivo de ser notada, chamar a atenção, fazer bonito.

Sabe quando você chega “toda poderosa”, se senta, dá “aquela” cruzada de pernas e acende um cigarro? Era exatamente assim que funcionava. Se era prá chamar a atenção, ponto prá mim. A “homarada” toda ficava “babando” e as mulheres me olhavam com um certo desdém, talvez por não terem a mesma audácia, a mesma independência ou o mesmo par de pernas.

Fico pensando em como eu era vazia e fútil! Que cabecinha medíocre!

Escrevo esse depoimento para dizer às menininhas de hoje que fumam “para fazer bonito”, que realmente elas podem não ter um final agradável.

Tive oportunidade de conhecer uma pessoa com câncer no pulmão. Estava em um hospital público em estado terminal e tinha crises horríveis. Gritava a noite toda de dor. Parei por um momento e pensei: qual teria sido o motivo que a levou ao vício? Seria a cruzada de pernas da “femme fatalle”? Seriam as amigas do colégio, na sua adolescência? Ou seriam os apelos constantes dos comerciais da TV, dos out-doors...

Seja qual for o motivo, o final não é apenas desagradável, mas muito, muito sofrido.