LIÇÃO DE AMIZADE

Dias atrás, Arthur, de 8 anos recém feitos, um dos meus netos, veio passar uns dias comigo. Onde moro é um grande terreno com um total de 4 casas modestas, ou seja, mais 3 além da minha. Há um razoável espaço verde, com grama e plantas, onde as crianças que habitam (ou visitam) o lugar brincam, sobretudo nos dias ensolarados. Assim Arthur passa grande parte do tempo brincando com “amigas”: várias menininhas entre 5 e 10 anos. Coincidentemente todas as crianças são meninas, com exceção do Arthur evidentemente.

Uma das amigas preferidas dele (se não a preferida) é a Aninha, também de 8 anos. Se conhecem desde as respectivas barrigas onde foram gestados, de suas respectivas mães. Como todos os bons amigos, de vez em quando “brigam”. O que é muito natural, ainda que não desejável. Faz parte do aprendizado de vida que começa muito cedo.

Naquele dia Arthur tinha me avisado que ia “lá” brincar com as meninas. Não demorou e retornou visivelmente entristecido, mas nada falou do que tivesse ocorrido. Sentou-se numa pequena escadaria que há na frente da casa e lá ficou, cabisbaixo, com a cabeça entre as mãos.

Dei um tempo, depois perguntei, já respondendo:

- O que houve Arthur? Brigou com as meninas?

-Com as meninas não vô, eu e a Aninha que brigamos (quase chorando).

-Ah! Tudo bem Arthur, isso acontece. Amigos de vez em quando também se desentendem. Dê um tempo, daqui a pouco tudo volta ao normal.

- Eu sei vô, é que eu fiquei muito triste e chateado ... (agora já deixando correr algumas furtivas lágrimas).

Sem entrar no mérito dos motivos sobre o desentendimento , o que certamente não devia ser nada muito sério ou digno de preocupação, pedi que fosse comigo até a cozinha onde eu havia guardado para ele a metade de uma barra de chocolate branco, creio que uns oito quadradinhos. Ele pegou os cubinhos do chocolate, começou a comer e guardou, na própria embalagem, metade deles.

- Pra quem você tá guardando chocolate? Pra sua mãe? (às vezes ele guarda parte de alguma coisa que eu lhe dê para sua mãe, ou outra pessoa).

- Não vô. Tô guardando pra Aninha. A gente brigou, mas continuamos amigos do mesmo jeito.

- Claro Arthur (concordei).

Logo a seguir o rostinho dele se iluminou subitamente, pegou o embrulhinho com os chocolates guardados:

- Eu vou lá levar pra Aninha, tá vô?

-Tá bom, Arthur. Vá.

E saiu correndo, feliz, levar o “tratado de paz” para a amiga.