"Nós não estamos mais aqui..."
Nasci aos vinte e sete dias do ano de 1977. Era outro mundo aquele. O município onde resido desde então era outro -- vocês não fazem ideia do quão diferente era aquele mundo! Menos pessoas, menos problemas, desenhos animados que marcavam época, filmes mais intensos. Isso pra gente falar de meia dúzia de elementos relacionados a um tempo memorável. Era, com efeito, reitero isso, outro mundo. Um mundo melhor -- se comparado a esse em que vivemos, claro, se fizermos um cotejo de alguns aspectos.
Tinha o Sítio do Pica-Pau Amarelo com um timaço de FERAS (André Valli, Dirce Migliaccio, Rosana Garcia, Julio César, Zilka Salaberry -- Monstro Sagrado, o maior deles --, Samuel Santos e Jacyra Sampaio, que, ao lado de Zilka, fortalecia o seriado sob vários aspectos).
A TV que meu pai trouxera era colorida. Tubo de 20 polegadas. A gente trocava de canal girando, em sentido horário (que, como vim a saber mais tarde, era o certo a ser feito, para evitar danos ao dispositivo), o passador de canais. Era um televisor Sanyo. E, nalguma parte dele, constava a inscrição "IC SOLID STATE".
Estou escrevendo talvez mais por conta da "troca manual de canais" do que por qualquer outra coisa. Tudo ficou outra coisa agora, sabe? Er... Tudo é eletrônico, digital, internetificial. Parece que o futuro convive com o passado (pelos nossos acessos aos bancos de dados contidos em páginas da rede mundial de computadores), fazendo do presente uma espécie de "cubo mágico de gelo". Diabos... Mas é bem por aí mesmo.
Um desenho animado que me marcou demais foi "Missão Mágica". "Está mentindo-tindo-tindo", dizia Miss Tickle a seus alunos quando um deles era descoberto faltando com a verdade. SENSACIONAL! Se a palavra "época" tem um efeito forte sobre mim, numa hora dessas esse efeito infla. Soa como palavra mágica. (Estou sonhando-ando-ando...)
Deus... O tempo para mim é algo incerto. Relativo demais. Porque trinta, quase quarenta anos atrás para mim parece coisa de instantes passados há meros segundos. E minutos, quiçá dias passados há pouco me parecem séculos que se foram há muito... Talvez isso não seja um defeito meu. Talvez apenas seja um modo diferente de lidar com algo que não faz muita diferença ao comum dos seres humanos.
Acho que eu vou acabar escrevendo um livro de memórias, sabe? Só não sei, não por ora, o que poderia/ficaria bem nele. Talvez eu dilua elas em meu romance de ficção científica -- minha obra-prima, na qual trabalho há quase três anos.
Como não estou mais em nenhuma rede social, tento, há alguns dias, compartilhar esses meus textos com vocês, por aqui mesmo. Espero ajudar as pessoas que se interessam por histórias alheias. Afinal, tenho muita coisa para contar. E devo conviver com aquele sentimento muito forte de que se tem de escolher: ou se escreve para mofar em estantes do Desconhecido, mas garante-se, com isso, algum lugar na Eternidade ou então se produz mercadoria a ser vendida em bancas de jornais, apelando àquela parcela média da população, que se contenta com migalhas já digeridas. Talvez eu não me encaixe em nenhuma das duas "opções". Mas nem por isso deixarei de publicar meus livros. E manter minha cota de textos (sofríveis, razoáveis, bons e que caem no gosto dos superleitores como você) sempre ampliada.
Dáblio Vê Fochetto Junior