Amores singulares
Os amores impares têm inspirado poetas e adornado romances através do tempo. Míticos, místicos, lendários, reais, de casais famosos e de famas que erigiram a partir de amores singulares. Amores que desencadearam guerras, que mudaram o curso da história, que edificaram monumentos, que assaltaram bancos e andaram fora da lei. Quem não ouviu falar dos amores de Tristão e Isolda, de Bonnie e Clyde, de Shah Jahan e Mumtaz Mahal, de Páris e Helena de Troia?
Amores bonitos também acontecem entre pessoas comuns. Suas histórias não correm pelo mundo e raro vão além do conhecimento de amigos, dos parentes, dos vizinhos. Não erguem monumentos, não destronam reis, não derribam impérios mas geram outras histórias, concebem bem-querer e inveja.
Meu amigo Rembrandt, por exemplo, tem um amor ideia por uma flor, que não se materializa e já passa de ano. Mistifica o ser amado. Sabe que é difícil de realizar o que se torna um sentimento desesperado, melancólico, solitário. Ouviu num dia de novembro uma frase da boca da sua amada que dizia: “Não se esforce tanto, silencie mais um pouco”, sabe-se lá se dito a outro nome, ou a esmo, por verso de poesia, e apaixonou-se, achando que era para ele. Chama Clorofila à moça cujos olhos lembram-lhe os verdes musgos da infância. Por ela, lança seus sonhos ao oceano imaginário, imenso... Pede a Deus que o ciclo das ondas num ponto qualquer de infinitas léguas de praia, a encontre brincando de lua e deite ao menos um deles em seu colo. Por isso, um amor único.
Tem uns que nasceram de um encontro de olhares na sorveteria. Outros, menos românticos, de uma explosão de rompantes no ambiente de trabalho. Alguns até, cobertos de carinho, vivem por mais de trinta anos e sem saber que não querem, resolvem terminar. E não encontrando sentido, renascem. Os mais raros, nem a morte põe fim e ostentam a aliança perpétua nos dedos dos viúvos. Foi assim há muito tempo, sem planos indo a Fonte, que Marina aparecera aquele dia, feito uma Rebeca, na vida do meu primo Isaque.
Ah! Se a menina Clorofila repetisse aquela frase, por certo meu amigo Rembrandt, cairia de novo prostrado aos seus pés.