Assim ou ...nem tanto. 82

Cy Twombly

A criança rodava sobre si mesma e deixava escapar um som monótono que ficou como ruído de fundo perdido entre outros da sala de espera onde muitos aguardavam em pé a consulta.- Cala-te, disse a mãe. A criança continuou bastante mais tempo e só depois, quando já chispavam fogo os olhos da mulher, parou e disse: - não podia parar. Eu era um pião. A mãe, pareceu aceitar a explicação e respondeu:-Está bem mas brinca agora de pedra. E a menininha chorou. Muitos dos desafios que nos colocam são difíceis de aceitar. O que os meus olhos vêem escapa a todos os que não estiverem em sintonia com o que penso. Riscou o menino Henrique a lápis de cor as paredes da sala. No burburinho que se seguiu só o avô achou bonito o desenho posição em desacordo com a real sensação que teve olhando a primeira vez os riscos da criança. E pelo afeto vamos mais longe, mais à aventura, mais aptos a gostar muito do que tanto nos desagradava quando, trancados os olhos e o coração, só víamos riscos na maravilha. E recordo aqui Cy Twombly, falecido em 2010, depois de tanto que riscou papéis, paredes, telas. Riscou a ordem, os ritmos, a anarquia, as emoções e o centro da paixão, esse verdadeiro caos onde caímos até que a serenidade nos chegue. Que bom é ter a certeza de que continuará a haver quem enfrente a imobilidade, conteste a regra e apresente a fase seguinte, o nosso próximo arquétipo.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 02/03/2017
Reeditado em 02/03/2017
Código do texto: T5928058
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