SÃO GOLPES DE TODOS OS LADOS
A porta está aberta, apenas seis metros e apenas as grades separam-na da calçada. Não demora e lá vem um chamado:
- Senhor, por favor!
Sim, respondo eu.
- Boa tarde! Somos vizinhos, moro duas casas abaixo da ... . O senhor mora aqui? - Neste ponto ele enforcou-se, pois resido neste endereço faz 10 anos e todos os dias transito pela rua e nunca o vi por ali.
Ele continuou:
- Vizinhos devem apoiar-se. Sabe, já liguei para o 190 e eles não podem ajudar.
Um feriado de carnaval, calorão insuportável e eu ouvindo e de olho nele.
Ele continua:
- Minha esposa teve nenê e está no hospital com alta, tenho que trazê-la, mas só tenho uma moto!
Enquanto agitava um chaveiro, perguntou-me se eu dava uma carona para ele até o hospital e trazê-la para casa.
Claro que ele sabia que eu não acataria o pedido dele, por vários motivos: não o conhecia, um calorão danado e eu teria que mudar de roupa, pois estava de chinelos e bermudas.
Tão logo respondi que não poderia ajudá-lo, ele prosseguiu, sugerindo-me lhe alcançasse o dinheiro para o táxi.
- Não tenho dinheiro em casa, disse-lhe eu.
Ele atravessou a rua e espiando-me de vez em quando.
No edifício um pouco mais adiante, travou diálogo com vários moradores, através do interfone.
Pelo visto, ninguém caiu no golpe.
Na cidade há mais de 15 mil logradouros, então a chance deste golpista passar por aqui novamente, talvez seja uma, em 15 mil, portanto, daqui uns 40 anos.
Mas não podemos esquecer que há milhares de falcatruas por ai, então corremos o risco de todos os dias, pelo menos um tente nos aplicar um tipo de golpe.