Remédio santo para detonar desalento

Estava meio tristinho, até parecia que estava com ressaca do carnaval, mesmo sem brincado, só sai de casa para comprar o pão, mas tenho essa espécie de lundum quando fico pensando nas dificuldades dos mais pobres, daqueles que só se alegram com as ilusões do carnaval. Sim, fico sentindo um certo desalento, sou um cara muito ligado com o povão. Acho uma injustiça o povo passar tanta necessidade d uma minoria de privilegiados viver à tripa forra, por cima da carne seca e ainda manipulanfo os pobres.

Bom estava assim jururu, chateado, triste e aí para me ocupar fui procurar a declaração de renda fo ano passado para pegar uns bizus para fazer a deste ano. Foi quando achei um papel antigo misturado com os documentos, era um texto do saudoso Professor Rubem Alves que me foi enviado por uma freira de Pesqueira. Reli o texto e, juro, foi remédio santo para oassar o desalento e retemperar minhas forças e voltar a esperança, o sonho do homem acordado. Mesmo sabendo que vários smigos do RL conhecem o texto vou transcrevê-lo:

POR OUTRO MUNDO

Rubem Alves

"Ó Deus, nós te damos graças por este universo, nosso lar; pela sua vastidão e riqueza, pela exuberância da vida que o enche e da qual somos parte.

"Nós te louvamos pela abóbada celeste e pelos ventos, grávidos de bençãos, pelas nuvens que navegam e as constelações, lá no alto, Nós te louvamos pelos oceanos, pelas correntes frescas, pelas montanhas que não se acabam, pelas árvores, pelo capim dob nossos pés. Nós te louvamos pelos nossos sentidos: poder ver o esplendor da manhã, ouvir as cancões dos namorados, sentir o hálito bom das flores da primavera.

"Dá-nos, rogamos-te, um coração aberto a toda esta alegria e toda esta beleza, e livra as nossas almas da cegeira que vem da preocupação com as coisas da vida e das sombras da paixões, a ponto de passar sem ver e sem ouvir até mesmo quando a sarça, ao lado do caminho, se incendeia com a glória de Deus.

"Alarga em nós o senso de comunhão com todas as coisas vivas, nossas irmãs, a quem deste esta terra por lar, juntamente conosco.

"Lembramo-nos, com vergonha, de que no passado aproveitamos fo nosso maior domínio e dele fizemos uso com crueldade sem limites, tanto assim que a voz da terra, que deveria ter subido a ti numa canção, tornou-se um gemido de dor.

"Que aprendamos que as coisas vivas não vivem só para nós; que elas vivem para si mesmas e para ti, que elas amam a doçura dz vida tanto quanto nós, e te servem, no seu lugar, melhor que nós no nosso.

"Quando chegar o nosso fim, e nao pudermos fazer uso deste mundo, e tivermos de dar nosso lugar a outros, que não deixemos coisa alguma destruída pela nossa ambição ou defirmsda pela nossa ignorância.

"Mas que passemos adiante nossa herança comum mais bela e mais doce, sem que lhe tenha sido tirado nada da sua fertilidade e alegria, e assim nossos corpos possam retornar em paz para o ventre da grande mãe que os nutriu e os nossos espíritos possam gozar da vida perfeita em ti".

Xô, desalento. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 01/03/2017
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