A CASA DO LAGO
A CASA DO LAGO
A casa do lago não tem mais rosto. O lago não é efêmero. Está lá. Plácido. Sereno. Sem tempo. Um tempo que não é mais aquele tempo.
Regressão de fatos nostálgicos tremulam ao vento das lembranças. No lago onde não fui mulher. Na casa onde não fui mundo.
No início de tudo eu só queria a paisagem calma. O sabor das coisas nascentes.
Invento fatos que não vivi. Vivo fatos que me contaram.
Construo em mim o que o sentimento deixou como saudade. Dos amanheceres errantes. Dos crespúsculos sem amantes. Da vida que emprestava o rio. Da casa do lago. De mim. No sagrado de viver o encantado do silêncio. Das águas do lago.
A casa, hoje antiga, em branco na memória. Sem rosto para ter história. Sem história para ter reflexos. No lago que margeia os pefumes de outras flores.
No fim de tudo canto um canto. Nos teus ouvidos surdos vastos de abismos. Nada espero. Apenas quero que o eco não furte a possibilidade das infinitas vozes. Das infinitas fontes que alimentam braços que jamais desabraçam. Que carregam para o esquecimento o haver despedidas.
Mírian Cerqueira Leite