UMA DROGA: O CARNAVAL
Por Gecílio Souza
Eu comparo a humanidade
A uma mega concentração
Em que bilhões de pessoas
Ocupam um pavilhão
Movidas por crenças e dogmas
Marcados pela contradição
Muitos seres doentios
Fanáticos e sem noção
São subjetividades em cacos
Dilemas em erupção
Sublimados pela moral
E pela social convenção
Que reduz o indivíduo
A um humano turbilhão
De desejos recalcados
“Bom” homem ou “bom” cristão
Ideal pai/mãe de família
Arquétipo de cidadão
“Normal” por acreditar num Deus
E seguir uma religião
Mas nas entranhas do ser
Naquele humano porão
O homicida da paz
Ganha força e combustão
Delinque a felicidade
Subjuga desejo e emoção
A espada do moralismo
Impôs-lhe uma grande cisão
A dupla personalidade
Forma o homem desde então
Em público santo e puro
Às escondidas um “cão”.
Firme defensor dos preceitos
Mas no íntimo lhes diz “não”
O patrulhamento moral
Faz severa oposição
Ao ser humano total
Dotado de instintos e razão
Falece a autenticidade
E nasce a simulação
É o império do recalque
Filho da sublimação
Que cedo ou tarde se explode
Qual panela de pressão
Queimando e causando estragos
De difícil mensuração
Metaforicamente queima
As membranas do coração
Os pobres mortais se transpôs
À existencial confusão
De onde buscam respostas
E almejam solução
Aos desvios do próprio ser
E à histórica distorção
Do real conceito de gente
Sua genuína definição
Esse monstro psicológico
Causa psíquica devastação
Que se ejeta do inconsciente
Incandescido da paixão
Se atira ao colo do prazer
Em neurótica exaltação
Ao volúvel e imediato
À agradável sensação
Tapear o xerife da moral
Que gera auto punição
As gandaias e as farras
São os truques da ilusão
O carnaval é o evento
Mais estúpido da tradição
O que a falsa moral veta
No dia-a-dia da nação
Nesta época é venerado
Com orgulho de aprovação
Carnaval oficializa a orgia
Discrepante do padrão
Que a sociedade estabelece
Como princípios de educação
Essa histérica festa esconde
Muita trama e ambição
Desvia o olhar das massas
Com o marketing da distração
As ofensivas contra o país
Se dão nessa ocasião
Piedosos e impiedosos
Se entregam à fornicação
Enquanto os poderosos
Refinam a maquinação
Enquanto foliões pulam
E deles fazem gozação
Dos gabinetes ou camarins
Riem baixinho do povão
Copiam a tradição romana
Coliseu com circo e pão
Injeta o ópio no povo
Se regalam na canção
Pensando no próximo pleito
Se misturam à multidão
O carnaval é de fato
A moderna consolidação
Do artifício e da fuga
Da humana condição
As cenas mais deploráveis
Se exibem na televisão
O fútil e o irrelevante
Ganham especial atenção
Até mesmo os puritanos
Caem na devassidão
É o culto ao bacanal
É o sexo em extorsão
Uma multidão de Narcisos
Numa existencial solidão
Impetuosos e sádicos
Em neurótica exposição
Cada um se faz vetor
Da irracional reprodução
Carnaval é válvula de escape
Que leva ao social porão
É a droga mais potente
Presente na civilização