A DESEJADA
No dia das crianças, bem cedo como de costume, fui até a praia fazer minha caminhada matinal. Quando ia atravessar a pista, dei de cara com uma cachorra pequena já rabugenta, no cio e cercada por uma dúzia de cachorros a lhe cortejar.
Passei por eles sem lhes dá atenção e na volta tornei a os encontrar quase no mesmo lugar. Até ai nada de novo, nada me chamou atenção. À tarde, voltei a praia e lá estavam eles no mesmo ritual: ela indiferente e eles suplicantes. Quando voltei desse segundo passeio, a coisa mudou: a cachorrinha, cansada daquele assédio e fatigada pelo sol escaldante, entrou debaixo de um fusquinha velho e lá debaixo, sem dá a mínima para seus admiradores, poi-se a cochilar tranquilamente. Os cachorros, agora em número de treze, cercavam o carro velho e latiam desesperadamente na esperança de que ela, a cachorrinha, se compadecesse e voltasse para a fuzarca. A cachorrinha, no entanto, como é próprio das fêmeas, não dava a mínima para o sofrimento deles. Não resisti àquela cena e sentei-me em um paralelepípedo encostado ao muro de uma casa. Ali, por cerca de trinta minutos aproximadamente, observei a gostosa cena de independência e de suplica entre a cachorra e os cachorros. Para aqueles cachorros, aquela cachorrinha miúda, sarnenta e já velha, valia muitas vezes mais que todo ouro do Barão de Araruna que os dois escravos malucos enterraram. Ela era uma deusa e eles seus fieis e ardentes adoradores. Foi então, que com os meus botões pensei: não é sem motivos, que na hora do vamos-vamos, as mulheres adoram ser chamadas de cachorra pelos amantes!
Do meu livro
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