Lá vem a foice, o xixi, o cocô
Cissa de Oliveira
Pode-se partir de várias maneiras: ou como um passarinho que de repente despenca lá de cima por uma pedrada, por uma intempérie ou por um mal súbito. Minha vovozinha morreu assim, que Deus a tenha. Mas pode ser também por algum acidente bobo, traumático ou até mesmo bizarro.
Outro dia, no trânsito aconteceu um, e lá ficou o homem na sarjeta, com a calça rasgada e a bunda - morto também tem bunda -, de fora, e as pessoas, donas dos próprios horários, poltronas, carros, medos e sustos, o máximo que aproximavam era o olhar. Noutra feita, em pleno sábado chuvoso, lá estava o rapaz caído da moto, e quase todo coberto de jornais, na calçada. Que notícias recobririam aquele corpo? Quem ainda esperaria por ele? Talvez a namorada, a mulher... filhos?
Às vezes, enquanto a madrugada atravessa a porta da manhã, uma dor atravessa um peito e tão rápido que o medo quebra o nariz na porta. Triste mesmo são as camas dos hospitais, quando nem as drogas mais fortes agem. Já desci pelas escadas várias vezes depois de passar por essas enfermarias, assim teria mais tempo para me refazer “daquela” visão. Pior mesmo é o afrouxamento dos esfíncteres, que lá vem a foice, o xixi, o cocô e o cheiro da verdade: sulista, nortista, preto, católico, americano, judeu, analfabeto, doutor, japonês, loiro, moreno, espanhol, padre, gordo, magro, bandido, beata etc e tal: tudin, tudin igual.