Pelo buraco da fechadura
Meus olhos sempre foram alvos das ciências humanas.
Na adolescência era fascinante ler Augusto Cury , mesmo mais tarde, na universidade ter a decepção de saber que ele não era bem o cara (mas há quem diga que sim).
Queria saciar a sede que meus olhos viam, li o que devia e o que não queria da filosofia e passei muito tempo perdida nas bobagens significamente úteis de escritos, de teses, que não diziam nada da vida.
Cresci confusa...
Até meus olhos avistarem de longe a literatura, que em sua leveza me dizia:
- Não se preocupe a toa, borboleta neurótica... Se entregue e voe!
Aí o poeta Arnaldo Jabor me aconselhou:
"Seja uma idiota, não leve a vida a sério! "
Ligava a tv e meus olhos viam " A vida como ela é". Nem acreditava que Globo fizesse algo sério! (Eu teria as respostas) Quase cai do sofá. A tv fez! Foi a globo, logo não era sério mesmo.... Mas fui nessa busca veemente de respostas ... vi e li Nelson Rodrigues incontáveis vezes na telinha.
Fascinada pelo universo realista de Nelson, ele disse que podíamos "ver a vida pelo buraco da fechadura". E em resposta eu nunca disse tanto "massa... uau" na vida. Mas isso que parecia o máximo, nem foi tudo! Meus olhos seguiam inquietos pela fome confusa em desvendar o desconhecido... Até que finalmente anos depois conheci Fernando Pessoa. Em poucas palavras me disse:
- Voe ao seu infinito, mas lembre-se que pensar nisso doerá a sua alma. Confusa, sai dali sem saber se era verdade ou mentira. Seria a literatura em suas curvas fantasiosas imitando a verdade?
Bom, não sei! Lembro de Fernando ter escrito que o ato de pensar doem os olhos. Meu Drummond fechava os seus olhos ao escrever em plena II Guerra Mundial que eles já eram "pequenos demais para enxergar o mundo que se esvaia em puro sangue".
Quanto mais corria meus olhos nas letras, mas minha cabeça ficava pequena para caber minhas duvidas. Aos poucos percebi que estava viciada... em não saber nada. E justo eu que muito queria aprender da vida. Descobri os modernistas e tive um caso de amor, tirei fotos com meu Drummond... trocamos segredos na madrugada em copacabana, viajei mais de 20 horas para estar com ele em Paraty (Flip). Acreditei que poderia entender mais sobre o amor e a paixão com Vinicius de Moraes. Toquei a pequenez da vida ao olhar com os olhos do Manoel de Barros. E o outro que se chamava Manuel, já se preocupava em alertar que a vida é efêmera.
Disseram-me tudo, tentaram me ensinar algo, mas hoje há pinturas que não vejo, há coisas que não escrevo e o que está a minha frente é cada vez mais invisível aos olhos do conhecimento.