GERAÇÃO 80

Se você viveu o auge da juventude durante os anos de 1980 e 1990, provavelmente já vestiu ou sonhou em ter um jeans manchado, devidamente combinado com uma bota branca da Xuxa e com uma daquelas camisetas largas, de cores berrantes, com estampa inspirada num daqueles videoclipes dos famosos astros americanos, especialmente Madonna. Com um colete jeans sobreposto ficava o máximo. Também era imprescindível usar uma sandália de plástico. Qual menina não quis ter uma Melissa Miami, uma Melissa Los Angeles ou um Melissa Las Vegas?

Com certeza você já cortou ou pensou em cortar o cabelo no estilo franjão ou pique-maleão, que o deixava bem repicado no alto da cabeça e comprido e reto, caindo nas costas. Tratadas com creme rinse e com um toque de New Wave glitter gel as madeixas ficavam alucinantes! Homens e mulheres adotaram esse corte estrambólico. Quanto à maquiagem, ninguém economizava blush nem sombra. Nossas bochechas ficavam tal qual uma maçã do amor.

Era mais que demais usar uma calça legging, ou melhor, calça fuseau, bem colorida, com aquelas famosas polainas que a dançarina de Flashdance popularizou. Quando o Menudo (minha louca paixão) aportou no Brasil e fez gente se deliciar com a coreografia de Não se Reprima, as calças coloridas e apertadas dos cinco gatinhos conquistaram até os rapazes mais acanhados. Com um tênis All Star, Bamba ou Montreal, a produção ficava perfeita.

Alguns acessórios eram indispensáveis. Usar uma faixa de tecido na cabeça ou na cintura era sinal de bom gosto. E aqueles brincos de plástico, enormes e coloridos?! Também era “importante” ter aquelas pulseiras de couro, crivadas de tachinhas prateadas, que os metaleiros usaram no Rock in Rio.

Na hora do banho, nossas peles eram geralmente acariciadas pelo sabonete Spree (aquele que tinha um cheirinho de limão), pelo Solis (todo balcão de venda tinha), pelo Phebo, o Vinólia, o Vale Quanto Pesa, pelo Cashmere Bouquet, o Gessy e outras "raridades". Os cangotes recendiam a almíscar, patchouli, Contouré, Toque de Amor e outras “preciosidades” da época. As axilas recebiam jorros de Rexona, Mistral, Impulse e fragrâncias da Avon. Sim! Antes da Natura e de O Boticário se popularizarem todo mundo usava Avon... e gostava!

Em termos de música, nossa geração viveu uma explosão cultural e deixou um bom legado. O rock nacional brilhava em seu apogeu. As letras tinham tanta poesia! Tantas palavras e mensagens bonitas! Coisas que não saem de nossas mentes, nem de nossos corações. No cenário internacional, hits incríveis marcaram época. Quem irá se esquecer do apoteótico sucesso de "We are the world"? Quarenta e cinco vozes num coro arrepiante e com um propósito louvável. À frente, ele, o astro-rei que popularizou o moonwalk, o sempre amado Michael Jackson.

A efervescência cultural dos anos 80 também se deu no cinema e na televisão. Os videoclipes revolucionavam, os seriados americanos contagiavam, e os filmes então! Muitos fazem sucesso até os dias atuais. As novelas globais tinham mais talentos que rostinhos bonitos e corpos sarados; e muito mais conteúdo que apelo sexual. Os desenhos animados não tinham tantas lutas; os personagens eram quase sempre bonitinhos e as histórias tinham inocência e até mesmo lições de moral.

Com aquele movimento das “Diretas Já” a ditadura militar sucumbia e o Brasil varria o lixo político e social que maculava da pior forma uma grande parte de sua história. Mas, claro que nem tudo são flores. Foi justamente nessa época que o pesadelo da AIDS começou a mudar costumes e arrebatar anônimos e famosos. A inflação e os planos econômicos fracassados tornavam nossas vidas difíceis.O tabagismo era também um grande problema. Os comerciais de cigarros traziam uma temática baseada em “curtir a vida” sem limites; viajando, praticando esportes e ouvindo rock alucinante. Antigamente, era charmoso fumar. O vício do cigarro era visto como algo bom, pois insinuava poder e elegância. Era a forma que todo rapazinho usava para mostrar que já era “homem feito” e que estava pronto para namorar e ganhar o mundo.

A gente namorava, não ficava; pois havia mais respeito. A gente ainda não tinha computador, nem celular, nem DVD, nem Blu-Ray. Todo mundo usava máquina de escrever e o curso de datilografia era essencial no currículo. Na escola, as provas saiam dos mimeógrafos. Ouvíamos nossas canções favoritas em discos de vinil e fitas cassetes. Não havia muito tecnologia, mas em compensação, a gente podia curtir a rua, movimentar mais o corpo, conversar olhando nos olhos e ter muito mais amigos reais que virtuais. Bons tempos aqueles! Minha geração 80.