CARNAVAL, PÃO E CIRCO

Carnaval, tempo de alegria, deve-se festejar a vida. Parabéns para a cidade de Salvador que antecipou em um dia o início das festas. Aliás, Salvador já está em festa desde o reveillon. Mas o Brasil não é conhecido apenas pelo carnaval, destacam-se também o futebol, os festejos juninos, a corrupção, a desigualdade social, as violências, o racismo, a prostituição, o pior sistema de educação pública do mundo, o desemprego e um SUS falido. Mas, quem se importa com tudo isso, é carnaval, não vamos estragar a festa, devemos atender ao chamamento da TV capitalista e demagoga que tenta a qualquer custo brindar a quadrilha que comanda este país.

Em plena crise econômica, a prefeitura de Salvador investiu 50 milhões de reais no carnaval sem cordas, enquanto o Governo do Estado investiu aproximadamente 10 milhões de reais também no carnaval sem cordas. Trata-se de uma disputa antecipada e abestada das eleições de 2018. Não importam as fontes desses recursos que, aliás, eles alegam que são provenientes da iniciativa privada. O espírito carnavalesco tocou a alma dos empresários e eles, em um passe de mágica, resolveram ajudar o povão que não tem grana para o camarote ou o abadá. Que sensibilidade desses empresários.

Nossas escolas sucateadas, principalmente as estaduais, pessoas morrendo nos hospitais, inclusive nos de pequeno porte nas cidades do interior enquanto se aguarda uma regulação que nunca é deferida sob a alegação de que não há vagas nos hospitais regionais.

Enquanto os baianos sofrem com todo tipo de violência, inclusive roubos, crimes e ataques às agências bancárias no interior, a Polícia Militar deflagrou, do dia 18 a 28 de fevereiro a “Operação Abadá 2017”. Mais de 400 policiais apenas para intensificar o policiamento nas imediações dos postos de entregas das fantasias para o carnaval. Não seria de responsabilidade dos empresários cuidarem da segurança de seus produtos e clientes? Eu, que nem vou para o carnaval, devo pagar a segurança do folião que vai retirar o seu abadá? Em minha cidade, quando vou a uma agência bancária fazer algum saque, não vejo nenhum policial fazendo minha segurança, bem como a de ninguém. 400 policiais seriam uma boa opção para nos garantir a tranqüilidade nos espaços públicos. No total, para o carnaval, segundo o Governo do Estado, serão mais de 26 mil policiais na capital e no interior com um gasto superior a 43 milhões de reais.

Nada contra o carnaval, é uma festa “cultural” que reuni multidões, faz circular muito dinheiro, movimenta os hospitais e delegacias. Claro, o povo precisa de pão e circo, as chibatadas doem menos.

O brasileiro é mesmo um povo criativo, conseguem realizar com sucesso dois carnavais ao mesmo tempo, no mesmo lugar. A física de Isaac Newton não consegue explicar tal fato, mas os valores dos camarotes e dos abadás deixam claro o tipo de carnaval cada folião deve curtir - “cada macaco no seu galo.” Há camarotes que chegam a custar três mil reais por dia, enquanto a folia atrás de um trio pode chegar a custar até mil e quientos reais. Mas, para quem não possui esses valores, tem a pipoca, o empurra empurra, a violência, a cerveja quente, o assalto, o bombadão. Os 26 mil policiais? Estão garantindo a diversão dos foliões lá nos camarotes e nos blocos. Assim é o carnaval da Bahia, com final feliz apenas para os empresários e para os políticos. Corrupção, educação, emprego, saúde, segurança? Depois a gente ver isso, vamos aproveitar, afinal, é carnaval.

Manoel R
Enviado por Manoel R em 24/02/2017
Reeditado em 02/04/2018
Código do texto: T5922462
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.