MEUS POMBINHOS
Não sei por que as pessoas não se comportam como certos animais. Observei por um ano aproximadamente um casal de “rolinhas Fogo-pagou”, no pé de laranja lá de minha casa, na rua Maria do Rosário. Ficava horas e horas observando. Desde o fazer do ninho, até o ato de alimentação dos filhotes. Via aquele medroso primeiro voo. Era uma emoção só. Meus filhos acompanhavam estas maravilhas que poucos têm o privilégio de ver.
Não sei quem era macho ou fêmea, mas eles se revezavam a procura de gravetos para a confecção do ninho. Enlaçava-os como se tivesse uma linha no bico, rodeando ponto a ponto e ficava perfeito, pronto para pôr os ovos. Levavam aproximadamente vinte e sete dias para ver seus filhotes nascerem, era uma festa só e uma missão: protegê-los dos predadores, alimentá-los para ganhar peso e força para irem em busca daquele primeiro delicado voo.
Mas não era tão fácil, o dia toda era voo pra cá, voo pra lá, cata aqui, cata acolá. Vinham de papo cheio até o ninho. Lá ainda de olhos vendados simplesmente por instinto sabiam que mamãe e papai estavam cumprindo uma árdua missão: alimentar bem seus descendentes. Era a hora de vomitar, ou seja, colocar cuidadosamente o alimento sem perder nada na cavidade da vida dos pombinhos. Eles batiam as asas, abriam bem seus bicos ainda moles. Após aquela cena repetida inúmeras vezes por dia. Geralmente com maior intensidade nas horas em que os humanos também comem.
Ao amanhecer, ao entardecer e antes do pôr do sol. Toda hora, era hora de beliscar algo, guardar no papo e levar com muito carinho às rolinhas Fogo-apagou.
Eu ficava admirando vendo aquelas coisas e chamava meus dois pombinhos lindos, meus filhos, um casal que Deus a mim confiou cuidá-los, educá-los e vi que cuidar de gente era mais difícil. As rolinhas criaram penas, meus pombinhos precisavam de roupas por toda vida pra se proteger do sol e do frio. A comida também não poderia faltar, o ninho era nossa casa. Bem menor que a casa das rolinhas: o céu para voar, as diversas árvores para pousar, o mundo para conhecer e comida não se preocupar, pois Deus todo dia dá.
WALTER BERG.