PALAVRA DITA, PALAVRA CUMPRIDA!
Enquanto assistia o sabatinamento do candidato a ministro, Alexandre de Moraes, senti um pouco de inveja, mas não pelo notável saber jurídico e muito menos pela ilibada conduta.
Minha inveja foi pela capacidade de divagar e pela cordialidade exacerbada, coisas que nunca foram qualidades que tive. Vou mais longe, sempre fui um tanto ignorante, não por não saber das coisas, mas por responder forte, quando admoestado.
Passada a inveja, lembrei-me do Soldado Valentin, um explorado pelo estado, beirando 50 anos, analfabeto, passara meia vida preso. Desde que sentou praça na Brigada Militar trabalhou tirando serviço em presídios, escala de 24 horas no presídio e 24 de folga.
Valentin entrara na Corporação em meados de 1956, para trabalhar de guarda, na Casa de Correição e lá mesmo fez o curso, então, um dia de serviço e outro de folga não lhe dava muitas alternativas, tornara-se alcoólatra, vício que levou-o a faltar muitos serviços e assim teve que cumprir muitos castigos de detimento, talvez duas dezenas.
A guarda do presídio era composta de oito militares, os mais antigos, além de sentinelas, também acumulavam o comando, mas folgavam dois dias, enquanto as sentinelas rasas entravam a cada 24 horas, este era o caso do Valentin. Quando alguém faltava, um dos mais antigos era chamado, pois já estava de sobreaviso.
Assim, em média, cada soldado trabalhava 90 horas semanais, o dobro de um trabalhador comum. Tal trabalho não tinha direito a horas extras, nem banco de horas.
Certa feita o Valentin embriagou-se e faltou o serviço, no outro dia quando procurado, foi encontrado recolhido espontaneamente ao xadrez.
Para tal atitude ele justificou, pois na última reunião, quando perguntado, qual a atitude que o comando deveria tomar com aquele que faltasse o serviço, ele próprio havia dito que era a punição de detenção.
Pois é, Valentin quebrou a regra, da história de dizer e não fazer, coisa que acompanhará Fernando Henrique Cardoso ao túmulo, pois muito do que ele escreveu como sociólogo, não cumpriu quando presidente.
Parece que Alexandre de Moraes, também carregará este fardo ao túmulo, pois teria escrito que cargos de confiança de um presidente, não deveriam ser nomeados ministros no Poder Judiciário.
Por certo, Valentin, dentro de sua simplicidade e de suas faltas, merece meu reconhecimento pela palavra dita, palavra cumprida!