A primeira pessoa.
Quase todas as composições estão na primeira pessoa do singular; " Eu quero...", sim ,o verbo querer deve ser o campeão entre os autores. Partem sempre de dentro para fora, colocando a sua percepção , a sua óptica e assim se mostrando um pouco.
Tenho oitenta canções da minha autoria, letra e música, e pensando nisto evitei a primeira pessoa em algumas, e confesso, não é nada fácil sair do conceito, porque mesmo não querendo, estou lá , com o meu olhar e demais sentidos. São exercícios mais difíceis.
Admiro muito os compositores que ousam , o Chico Buarque é um deles, ele capta muito bem a alma feminina, e consegue escapar desses conceitos , trabalhando bem as letras, com rítmicas e métricas perfeitas , a ponto do Tom Jobim lhe propor parceria quando ele ainda iniciava a carreira.
São pessoas muito exigentes em regra geral, gente que se preocupa com a "palavra", o verbo bem conjugado, explora os adjetivos com perfeição, evitam as redundâncias, e usam da tônica no melhor estilo, com muita elegância.
A primeira pessoa sou "eu", o primeiro pronome , o que encabeça a lista, e quando se parte dele parece dar segurança, mas o bonito pede que o abandone, que não seja tão "egocêntrico", e desenhe outros planos, que não os meus, que imagine o mundo por outros prismas, a pluralidade poética faz cobranças , assim posso imaginar e entender "Fernando Pessoa "e seus vários heterônimos, ele era um deles, e ao mesmo tempo todos.
Aprendi com o poeta a necessidade de se multiplicar para crescer.