Sou da classe dos endividados
SOU DA CLASSE DOS ENDIVIDADOS
Miguel Carqueija
Sabem, há pouco, em minhas reflexões, cheguei à conclusão de que existe uma classe sócio-econômica que passa desapercebida aos sociólogos e economistas de plantão.
Pior, eu pertenço a ela.
Oficialmente diz-se que existe as classe rica (e dentro dela a riquíssima, dos multi-milionários tipo Tio Patinhas), a classe média (dividida em média alta e média baixa), a classe pobre e por fim a miserável, que inclui os mendigos de rua.
Pelos meus rendimentos eu seria da classe média baixa. Por que então me vejo privado de tantas possibilidades, até a de viajar?
Na verdade existe uma categoria não computada: a dos endividados, à qual pertenço desde que Itamar Franco (o melhor governante que eu vi neste país) deixou o poder e começou o governo FHC.
O cidadão endividado já não pertence à classe média, pois vive na corda bamba, e não na relativa tranquilidade do citado grupo. O endividado dispõe, eventualmente, de menos liquidez que um pobre, desde que este tenha evitado as dívidas – que o cidadão da classe média às vezes é obrigado a fazer por causa das pessoas que dele dependem.
Ter menos dinheiro que um pobre sem ser considerado pobre, inclusive para a utilização da Justiça gratuita – eis a sina do endividado, que pode se encontrar a um passo da miséria embora ganhe como classe média.
O endividamento iguala as classes. Em romances antigos, como os de Jane Eyre, vemos como existiam fidalgos e aristocratas arruinados, porque os seus rendimentos não bastavam para sustentar as suas ostentações. Mas esses, convenhamos, mereciam empobrecer, já que inclusive consideravam o trabalho uma desonra, coisa para classes mais baixas.
E a pessoa classe média que empobrece sem esbanjar, por causa das imposições do sistema?
Rio de Janeiro, 17 de março de 2015
(publicado originalmente no Portal Entretextos)
SOU DA CLASSE DOS ENDIVIDADOS
Miguel Carqueija
Sabem, há pouco, em minhas reflexões, cheguei à conclusão de que existe uma classe sócio-econômica que passa desapercebida aos sociólogos e economistas de plantão.
Pior, eu pertenço a ela.
Oficialmente diz-se que existe as classe rica (e dentro dela a riquíssima, dos multi-milionários tipo Tio Patinhas), a classe média (dividida em média alta e média baixa), a classe pobre e por fim a miserável, que inclui os mendigos de rua.
Pelos meus rendimentos eu seria da classe média baixa. Por que então me vejo privado de tantas possibilidades, até a de viajar?
Na verdade existe uma categoria não computada: a dos endividados, à qual pertenço desde que Itamar Franco (o melhor governante que eu vi neste país) deixou o poder e começou o governo FHC.
O cidadão endividado já não pertence à classe média, pois vive na corda bamba, e não na relativa tranquilidade do citado grupo. O endividado dispõe, eventualmente, de menos liquidez que um pobre, desde que este tenha evitado as dívidas – que o cidadão da classe média às vezes é obrigado a fazer por causa das pessoas que dele dependem.
Ter menos dinheiro que um pobre sem ser considerado pobre, inclusive para a utilização da Justiça gratuita – eis a sina do endividado, que pode se encontrar a um passo da miséria embora ganhe como classe média.
O endividamento iguala as classes. Em romances antigos, como os de Jane Eyre, vemos como existiam fidalgos e aristocratas arruinados, porque os seus rendimentos não bastavam para sustentar as suas ostentações. Mas esses, convenhamos, mereciam empobrecer, já que inclusive consideravam o trabalho uma desonra, coisa para classes mais baixas.
E a pessoa classe média que empobrece sem esbanjar, por causa das imposições do sistema?
Rio de Janeiro, 17 de março de 2015
(publicado originalmente no Portal Entretextos)