Não Morra De Fome!

Dizem que se a gente mudar a cor da grama,

Burro morre de fome...

Grande verdade e o pior,

Isso nem de longe é sinistro ou maldade.

Um dia, fui a um Hotel-Fazenda,

E quis sorver uma emoção pitoresca:

Passeio a cavalo...

Seliado o animal, vai outro animal por cima.

Dia de sol, pássaros cantando,

Liberdade... Ah!

Vou seguir por aqui... Por este

Caminho diferente... À esquerda...

...À esquerda... À esquerda!

Nada! Pocotó... Pocotó... Pocotó...

O cavalo continuou em linha reta...

Em um momento eu quis parar... Nada!

Que coisa, cavalinho...

Pára ai um minutinho.

Quero ver essa paisagem,

Pois estou aqui só de passagem e... Nada!

O belo quadrúpede continuou,

Inabalado aos meus comandos e,

Derrepente vi, no espraiar de um espigão,

Uma linda campina e ao longe,

Pinheiros forrados de pinha

Pensei... Vou lá! Mas de subto:

Pocotó... Poco... Pó... Pô, cavalo!

Cavalo parô! Frustração...

O belíssimo eqüino, de belo era tudo

Mas de liberto e liberdade... Era nada!

Tristemente preso e condicionado

A uma rotina que desvalia sua vida,

O belo selado...

O lindo freado...

O bonito encabrestado...

De cicatrizes esporado...

Seguia sempre e inutilmente

O mesmo caminho.

Nada de ousar,

Avançar um pouco mais.

Desvendar... Conhecer,

Mirar...Descortinar

Novos horizontes...

...Sempre, no cárcere da mesmice...

O fogoso de crinas longas parou,

Deu meia volta sem a menor

Concordância de minha parte.

E eu, ao descobrir que também ele,

Sofisticado e... Sofismado,

Com avançada tecnologia ou...

Quem sabe, tecnocracia,

Era “eqüipado” com controle remoto,

Onde remota foi a possibilidade

De galopar para onde bem quisesse.

Entendi... Fundi minha carne a dele.

Entristeci... Afaguei sua crina,

Sua dor era a minha

E silenciei...

Tem gente... Há pessoa... Mentes...

Possuidoras de mesma realidade e pesar,

Que não vêem amor nem poesia em nada...

Em nenhum lugar.

Não percebem as propostas poéticas

Das coisas e dos momentos.

São seres... Criaturas...

Presas e condicionadas

Como aquele belo, mas pobre;

Animal acorrentado

Aos conceitos e parâmetros da sociedade.

Vítima da massificação do código de barras

Tatuado em sua concepção de consciência...

Muitos não lêem uma poesia...

Outro tanto, não termina uma só

Que está lendo!

Vários banalizam, nem chegam perto

Para não se sentirem incomodados.

Porque a proposta de mudança... É mudança!

Se a pulga já está atrás da orelha,

Nada será como antes;

Pelo menos agora, ela terá coceira.

Sei que você, que leu até aqui,

Não vai morrer de fome só porque

Eu, um poeta, escreve:...

...As gramas vermelhas de outono,

Repousam o perfume silvestre

Das manhãs cheias de névoa...”

Sei, que você se desprendeu agora.

Viajou e, imediatamente, se viu ali,

Nesse novo lugar... Sentiu o perfume

E maravilhou-se com o que sentiu.

Não é uma pena?

Muita gente morre de fome!

Fome de amor...

Fome de ousar...

Fome de crer...

Fome de poesia...

Fome de Deus...

E não sabe...

Não muda o próprio caminho!

Opus Sewaybricker

03/09/07

Opus Sewaybricker
Enviado por Opus Sewaybricker em 03/08/2007
Reeditado em 03/08/2007
Código do texto: T591759