UMA CASA COM SAUDADES


Alguém já viu uma casa com saudades?
 
É quando os passos ecoam mais alto pelo chão. As paredes parecem mais frias, e à noite, tudo fica mais silencioso do que o habitual. O som da TV - que às vezes a gente usa para espantar a solidão - apenas a acentua. As fotografias parecem querer falar e contar as histórias que ficaram de alguém que não mais vive naquela casa. Ao mesmo tempo, elas estão mudas, e só falam às lembranças de quem as olha.
 
No jardim, as flores roxas que caem das árvores tem cheiro de tristeza. A areia no chão não exibe pegadas. As plantas parecem não se importar se vivem ou morrem.
 
Uma casa com saudades guarda apenas os sonhos mais tristes para suas noites, e eles ficam bordados nas fronhas, impregnados nos lençóis. Passarinho de manhã não canta na árvore próxima à janela: chora.
 
As nuvens carregadas passam sobre os telhados, mas não chovem. Os ventos sopram através das frestas, portas e janelas, uivando de saudades. 
 
Uma casa com saudades pode ficar com as paredes mofadas rapidamente. O relógio da parede às vezes para de funcionar. O telefone nunca toca. E pode ser que aquilo que a casa mais teme, venha a acontecer: alguém que não aguenta viver cercado pela saudade tranca suas portas e nunca mais volta a abri-las. 



Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 19/02/2017
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