Folhetim: A Vingança de Beta - Final

A cena da reconciliação só foi presenciada por Dedé Bravo. Num domingo, Durval que sempre acompanhava a comitiva do time da cidade quando ele ia jogar fora, viajou com Seu Dino e dedé num carro particular de um graúdo para a cidade de Veredas. O time de Canaã iria enfrentar o seu tradicional rival da vizinha cidade. O passeio não foi melhor porque o time deles perdeu por 2 x 1. Durval e Dedé voltaram na velha marinete com os jogadores. É que Dedé estava muito "alegre" e não quis voltar logo após o jogo, ficou tomando umas cervejinhas com os jogadores. Durval ficou tomando conta dele para que não fizesse nenhuma besteira. Quando chegaram em Canaã eram quase dez horas da noite. Dedé estava bêbado. Saltadam da marinete na praça da igreja e Durval se ofereceu para levar o amigo em casa. Dedé aceitou mas impôs uma condição: tomarem a saideira na barraca de Seu Reginaldo que ainda estava aberta. Depois de lavarem a prensa rumaram para casa. Quando passaram na frente da casa de Durval, Dedé viu uma das janelas aberta; mesmo bêbado estranhou e disse ao amigo:

- Oxente, camarada, você deixou a janela de casa aberta ou sou eu que estou vendo coisas?

Durval se assustou, jurava que tinha deixado tudo fechado, "devem ter arrombado", pensou. Entraram na casa. A cena que Dedé teve o privilégio de assistir fê-lo rir muito e quase ficar curado da bebedeira. A casa estava um brinco, toda limpa e arrumada, tudo no lugar. Da cozinha vinha um cheiro muito bom de carne de sol assando. O rádio estava ligado baixinho. E sozinha (tinha deixado os filhos na casa da mãe), costurando, toda bem vestida, a fita vermelha no cabelo, os lábios pintados, estava ali Maria Betânia, a Beta. Ela olhou para eles e riu, com aquele sorriso franco, alegre e, agora, sensual. Durval com o coração aos pulos, marchou para ela que se levantou e perguntou com a voz dengosa e sensual:

- Cadê o dente de ouro?

Abraçaram-se, se beijaram com sofreguidão, mas contiveram as lágrimas, afinal já haviam chorado bastante. Dedé sempre atento às coisas do cinema, comentou sarcãstico:

- Típico de um dramalhão mexicano ou daqueles filmes água com açúcar americanos que terminam com a chapa batida: ... E foram felizes para sempre. The End. Porra, beta, te manca, Durval, vocês têm visita em casa, tragam logo uma cervejinha estupidamente gelada e um pedaço dessa carne de sol que deve já estar queimando no fogo, senão não vou embora e vocês vão demorar para tirar o atraso.

Quando Dedé saiu, sem tomar cerveja e nem comer da carne de sol, quase empurrado, ainda ouviu Beta dizer:

- Nem pense mais em me desrespeitar na rua. Hoje e todos os dias você vai é me desrespeitar na cama, vai fazer comigo o que fazia com as raparigas e mais alguma coisa. O que é que elas têm que eu não tenho? Você vai trabalhar muito, neguinho, senão...

Não ouviu o resto, não era homem para ficar brechando nem ouvindo os particulares dos outros, mas de uma coisa estava certo: iam varar a madrugada fazendo amor.

F I M

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 19/02/2017
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