Ratá-tá-tá e o meu vaso marrom
Crônica de uma infância.
Minha mãe nunca quis que os filhos seguissem a carreira artística, sabia ela muito bem como era difícil e penoso, mas um dia, ela me levou para cantar na Rádio Difusora de Duque de Caxias, acho que era na Av. Presidente Kennedy, ao lado da Igreja de Santo António. Naquela época era comum as rádios usarem o nome “difusora”, como por exemplo, “Rádio Globo, a difusora do momento” e promoverem concursos, tanto para adultos, como para crianças. Eu vivia os meus deliciosos e ansiosos treze anos com os meus três irmãos, em meio a brincadeiras, travessuras e é claro, brigas, mas também gostava muito de cantar; penso até que foi uma forma que minha adorável mãe encontrou para me ver feliz e não me lembro muito bem, mas acho que meu irmão mais velho também participou. E assim fomos, ensaiei com o Maestro Cacau e participei do concurso com a música, era mais ou menos assim; “pode fechar seu guarda-chuva, a chuva é particular ". Eu nem sabia quem cantava essa pérola, mas na época era um sucesso e considerando o prêmio que recebi, acho que fiquei em último lugar, pois, acreditem, ganhei um vaso marrom, de plástico, com flores artificiais e pedrinhas brancas que até hoje eu me pergunto, isso é prêmio que se dê a uma criança de treze anos? (acreditem, eu com treze anos, era uma criança), ainda bem que não me lembro o que fiz com tão inusitado presente, mas acho que dei para a minha mãe. E pior ainda, foi ter que “engolir” o primeiro lugar, um bando de garotos com estranhas caretas como se fossem enlouquecidos roqueiros, exibindo orgulhosamente suas falsas guitarras feitas de papelão, com suas caras pintadas estilo Kiss, movimentando desarrumadas e encardidas perucas e cantando uma musiquinha que dizia assim: “Era um garoto que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones…e no final, era simplesmente terrível. Era um tal de “ Ratá-tá tá… Tatá-tá tá… tá tá tá… tá tá tá, algo simplesmente deprimente e ensurdecedor, mas confesso, fez parte da minha infância que jamais esquecerei e daria tudo, tudo mesmo, sem tirar um só Ratá tá tá , só para voltar e poder ouvir, com ou sem vaso de plástico marrom ou Ratá-tá tá, ao lado da minha adorável, guerreira e inesquecível mãe, Dona Neuza.