Folhetim: A Vingança de Beta - XI

Claro que Beta sabia de tudo. A mãe dela também. Esta era quem mais incentivava a filha na sua operação vingança. Enquanto Beta desejava apenas dar uma lição no marido, a mãe queria o rompimento definitivo e que ela recomeçasse a vida com outro homem, de preferência com Geraldinho do Correio. Só que a filha não queria isso, admirava o telegrafista, jamais deixaria de ser sua amiga, mas amar só amava Durval. Deixou de lado as manobras de vingança e raramente ia ao Correio, mas continuava se cuidando, nunca mais deixaria de se vestir bem, estava adorando ser vaidosa. Também não deixaria de passear, nem de ir ao cinema pelo menos duas vezes por semana. Outro hábito, este antigo que jamais abandonaria seria as visitas à sua comadre, Dona Estela. Numa visita recente ela revelou à comadre:

- Dona Estela, acho que está na hora de voltar para casa. Estou me sentindo muito só, mas não sei se posso confiar em Durval, dizem que ele está curado, será? A verdade é que estou doida para ver o dente de ouro dele.

A comadre que já esperava essa decisão dela, disse:

- Que dente de ouro que nada, você tá é com saudade dele. Claro que deve voltar para casa e penso que pode confiar em Durval, ele não vai ter mais nenhuma recaída, ele não é doido.

O que Beta não disse a Dona Estela, talvez por jma questão de pudor e respeito aos valores da comadre, é que não apenas estava se sentindo só, estava mesmo era carente de sexo, subindo pelas paredes. Precisava de um homem, urgente, na cama, de preferencia Durval, sonhava com isso. Depois que começara a ir ao cinema com frequência, principalmente para assistir aos filmes proibidos para menores de 18 anos, ela mudara em relação a alguns dos seus princípios puritanos. Adorava agora assistir cenas de amor, vibrava com aquelas mulheres senduais, desejava ser como elas, como Gina Lolombrigida, Marilyn Monroe, Sophia Loren, Ava Gardner, Elizabeth Taylor... Sabia que Durval e seus amigos - ouvira algumas conversas deles - gostavam muito daqueles filmes da Pelmex, aquela produtora do urubu voando, com aquelas rumbeiras fabulosas, Ninon de Sevilla, Maria Antonieta Ponds e Cuquita Carballo. Ela vira alguns desses filmes, sentia vontade de imitar essas rumbeiras. Na frente do espelho, á noite, no seu retiro na casa da mãe, sozinha, só de calcinha, imitava-as, rebolava, requebrava e ficava excitada, não raro se masturbava. Como desejava rebolar como as rumbeiras na frente do seu homem! Estava farta dos tabus e preconceitos; essa briga com o marido servira para que ela refletisse sobre o puritanismo idiota que proibe as mulheres de realizar suas fantasias sexuais. Conversando com uma das suas amigas, Irene, esta lhe abriu os olhos para muita coisa. Por exemplo: os maridos só procuravam as raparigas do Casablanca para obter o que não tinham em casa, se tivessem uma mulher mais compreensiva em relação ao sexo, mais criativa, aí a amiga tinha falado num português mais claro, "mais puta na cama", os maridos não procurariam aventuras fora. Beta concordou totalmente com esse ponto de vista da amiga. Ela sempre sentiu vontade de se soltar na cama, mas sempre temeu que o marido pensasse mal dela. Agora não, estava convicta e determinada a dar vazão às suas carências sexuais. Sexo não era pecado, era prazer, queria ir fundo no relacionamento com o marido. Sim, ia voltar para Durval, mas ele teria uma nova mulher principalmente na cama: vibrante, solta e, sobretudo, exigente, ele iria fazer com ela tudo aquilo que fizera com as raparigas e mais alguma coisa. Por outro lado, não seria nunca mais uma Amélia, avessa à vaidade, dessarumada, escondida, conformada. Mudara e Durval teria que assimilar isso. Pensando nas rumbeiras seminuas, ela fez a capricho um baby-doll bem sensual para estrear na volta para casa. Era mesmo uma nova Beta, carente de sexo, cheia de fantasias e fogosa. Sim, ia dar uma pisa de sexo em Durval. E levar.

Continua

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 18/02/2017
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