MEU CAPATAZ.

Olho o relógio roendo o dia, analiso a aurora e sua jovialidade, o ar que me sopra tem um cheiro de novo,mas o relógio vai comendo silenciosamente, colocando peças velhas por cima das novas,não demora muito, tudo esta tão adulto, a brisa já cheira a passados, coisas com seu tempo de vencimento nas ultimas horas, de repente o dia entrega suas forças, pronto tudo terminado, o ultimo suspiro,os últimos choros ou os últimos sorrisos.

Não há perdão, os ponteiros do relógio compõem uma engrenagem ditadora, e olha ele não tem pressa, esta ali na parede, eu o observo,seu formato oval, simples, barato e cruel.

Começo a me preocupar, sou um servo,preciso bater o ponto, mas o corpo está querendo sentir os prazeres do lar, o sofá da sala, o café escondido no escuro da garrafa, o canto dos pássaros encerrando a tarde, a cama repousando sob a colcha branca, tudo ficará para traz,preciso apressar lá vai o relógio apertando a fivela, mandando em mim, tenho que obedecer sou um servo,tenho que por o pão na boca dos filhos, não há mais tempo nem para chorar, o tempo que resta é o suficiente apenas para abrir e fechar a porta.

E lá fui eu deixando minhas vontades para cumprir com as obrigações,no trajeto me veio o pensamento, nada mudou, criaram o relógio para substituir o capataz.

Depois de uma noite de labuta,volto abro a porta,o relógio me olha, no seu silencio me fala, leve os meninos pra escola, tire o bolo do forno,

o leiteiro esta chegando, daqui a pouco é hora do dentista, chego a querer destruí-lo , mas recolho meu impeto , não adianta sou um servo da modernidade, a pressa faz parte da nossa cultura, não tenho que reclamar, sou um escravo que na correria procura a felicidade, mas onde encontrá-la? Não tenho tempo nem para pensar, ele é meu dono,esta estrutura fria que fabrica loucos, disposto na minha parede,ditando meus passos, exatamente como um antigo capataz.

Divino Ângelo Rola
Enviado por Divino Ângelo Rola em 18/02/2017
Reeditado em 08/05/2017
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