Recordações de Malú

RECORDAÇÕES DE MALÚ
Miguel Carqueija



Foi por volta de outubro de 1988, se bem me lembro. Aquele ano foi fatídico para os nossos animais de estimação. No espaço de poucos meses foram-se as três cadelas que mamãe criava: Kika, policial, Boneca, vira-latas, e Suzy, pequinês. Nós sempre demos preferência a cachorras por serem criadas dentro de casa e os machos costumam marcar território com urina.
Então minha mãe recebeu a Malú. Sua origem é um mistério: ela foi encontrada no Méier, amarrada num poste. Ou seja, livraram-se dela cruelmente. Andou numa clínica veterinária e afinal foi recolhida pela Sra. Nice, uma conhecida protetora de animais. De suas mãos veio para minha mãe.
Malú era muito nova, mas já adulta, e parecia uma raposinha. Durante algum tempo achei que era uma cachorra selvagem, mas as fotos do cachorro-do-mato brasileiro, no álbum “Mamíferos” editado pelo MEC em 1960, mostra uns canídeos de aspecto meio rude, digamos. Malú era mais vistosa, mesmo assim, passeando certa vez com ela na rua, ouvi uma criança chamá-la de “filhote de lobo”. Eu creio que de fato ela era de alguma raça doméstica mas mestiçada com cachorro do mato.
Foi o último xerimbabo de minha mãe. Depois que mamãe morreu em dezembro de 1997 ainda fiquei com a Malú por mais seis anos, até que ela se foi na véspera do Natal de 2003, com 16 anos ou quase.
Ela foi tão especial! Tinha uma inteligência excepcional, e era profundamente apegada a nós. Nos últimos anos deixara de ser filha única e dividia espaço com a poodle Gabriela. Malú tinha uma vivacidade incrível, consequência talvez de sua herança genética silvestre. Era como ter uma raposa em casa...

Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 2017.