Folhetim: A Vingança de Beta - X

Chegou ao Correio bêbado. Da porta chamou Geraldinho aos berros. Este saiu e foi conversar com ele na calçada. Glorinha e várias pessoa ficaram observando. Durval se coçou para puxar a peixeira, dizendo com a voz pastosa e embolada de bêbado:

- você tá se aproveitando de uma situação, tá querendo se vingar de mim, né deu cabra safado? Deve estar comendo minha mulher, mas eu vou te matar, seu porra.

Com dificuldade puxou a peixeira, mas estava cambaleando, aí Geraldinho que estava vermelho de raiva, não porque ele o destratara, mas porque caluniara Beta, não teve dúvida, deu-lhe um grande murro na cara. O malandro caiu no chão sangrando, a peixeira caiu, seguraram Geraldinho que, irado, no início de uma violenta crise de asma, disse:

- Você não merece a mulher que tem. Pensar uma coisa dessa é não conhecer Betânia, ela estava apenas querendo lhe dar uma lição que você merece mesmo. Ela jamais o trairia. Você devia se envergonhar de pensar num absurdo desses. O que você fez foi coisa de cafajeste.

A turma do "deixa disso" levou Durval direto para o consultório de Seu Dino que era dentista prático. O murro. Dedé Bravo disse que foi um soco mais violento do que os de Rocry Marciano, quebrou dois dentes da frente de Durval, um deles teve que der extraído, o outro podia ser recuperado. Depois da extração e dos curativos de praxe, o malandro já sóbrio, Seu Dino lhe disse sério:

- Durval, você sempre quis botar um dente de ouro e eu sempre me neguei a fazer isso porque os seus dentes eram perfeitos. Porém, daqui a uns 15 dias, quando o local da extração tiver cicatrizado, vou colocar o dente de ouro e uma coroa no avariado, você vai ficar com um riso de rico besta. Agora, tem uma coisa, cabra velho, você vai me prometer não fazer mais esse papel ridículo que fez hoje envergonhando não só a você mas a todos nós, seus amigos.

Durval agora sereno e tranquilo, em parte porque as suas desconfianças que tinha da mulher eram infundadas, demonstrando estar envergonhado, disse falando com dificuldade mas como se estivesse fazendo um juramento sagrado:

- Seu Dino, meu compadre, juro por nossa amizade e pelo amor que tenho por meus filhos e por minha mulher, que não vou fazer nenhuma palhaçada d não vou importunar Beta, vou deixá-la em paz. Um dia, quem sabe, se Deus quiser, ela me perdoa e a gente volta a viver juntos. Se não for possível, paciência, a vida continua.

Desse dia em diante Durval não protagonizou mais nenhum invidente ou gesto visando à reconciliação com a mulher. Fechou-se em copas sobre o assunto, voltou a ser o cara alegre de sempre, mas evitando a boemia desregrada, sem varar as madrugadas; reduziu deasticamente o consumo de bebidas, só bebia moderadamente. Começou até a trabalhar, assumiu de fato seu cargo de fiscal da prefeitura. Não deixou de se relacionar com as mulheres, mas só eventualmente, de preferência visitando a morena Toinha. Didinha ele nem olhava. Sobre ela confidenciou ao seresteiro: - Ela pra mim é homem, mano. É pé frio. É o cão chupando manga na cama, mas só me deu azar. Ultimamente conversava muito com Seu Dino, e dstava pensando seriamente em entrar para o partido comunista. Não deixou de frequentar o Senadinho e nem o Bar Acrópole aos sábados para participar das serestas. Com um detalhe: agora podiam cantar todo o repertório que ele não chorava. Numa dessas serestas, Dedé Bravo já meio bêbado, resolveu provocar Durval:

- Companheiro, Chico, vou fazer um pedido para testar os nervos de Durval, cante a música Maria Betânia.

O seresteiro ficou em dúvida, cabreiro, mas Durval rindo, deixando à mostra o dente de ouro, disse:

- Pode cantar, Chico, é uma música muito blnita, quando ouço-a lembro da mulher que amo, nas parece que ela não me ama mais, é a vida. Cante, rapaz, - mas olhou oara os lados - mas cuidado para Geraldinho não aoarecer, se ele ouvir essa música chora e tem asma.

Os amigos riram, o malandro estava curado, mas só seria feliz de verdade se Beta voltasse.

Continua