A EXPECTADORA

A EXPECTADORA

Havia um amor sufocado dentro dela.

Não experimentava o riso há tempos.

O motivo para a própria vida se perdera nas esquinas dos enganos.

Sentia-se encurralada nos becos dos nãos. Desgastando engrenagens da garganta. Emperradas na falta da voz.

Parecia um retrato de si mesma. Paralisado num tempo lápide. Nem estava morta. Nem estava viva.

Só estava ali. Só.

Sua vida era a dramaturgia de sonhos lúcidos. De novelas fantásticas!

Apenas não se realizava. Não atuava. Nem assistia.

Era como se desligasse a TV e ficasse em frente dela. Paralisada.

A expectadora articulada de desejos. Saturada de excessos. E de cara acuada no azedume.

Não havia meios para escapar dessa.

Estava atrás dos bastidores. Atrás do espelho. Sem imagem. Sem reflexo.

Um carro passa na rua quieta. E grita: "Pamonha, pamonha, pamonha. Pamonha fresquinha de Piracicaba!"

Mirian Cerqueira Leite

Mileite
Enviado por Mileite em 17/02/2017
Código do texto: T5915911
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.