Celebrar o natal com os pés no chão







            Natal é tempo de reflexão, amor e esperança. É oportunidade de celebrar o dom supremo da vida, aqui e agora, de reviver as lições deixadas pelo passado e confiar no futuro. A data simboliza o nascimento do filho de Deus, que veio para anunciar um outro reino, sem esquecer da realidade do mundo material, das contas a pagar, no início do próximo mês. Somente pela fé é possível perseverar e confiar que o próximo ano seja melhor, diante da tempestade de suspeitas de crimes desvelados pela Lava Jato.
            Na modesta choupana preparada por José e Maria, distante do conforto das coisas familiares, renasce a mensagem semeada em leito de humildade. A celebração sinaliza o caminho para se chegar ao reino anunciado e mostra o jeito de caminhar nesta vida preenchida pelos desafios de cada dia.

            É momento de participar da festa, sem esquecer da próxima semana de trabalho e rezar para que essa rotina possa voltar, quando a família está sob a ameaça do desemprego. Mesmo diante da incerteza, a mensagem reacende uma chama para iluminar a construção de dias melhores.
            É momento de exercitar o eterno retorno ao mundo do sagrado, quando somos chamados a recompor a espiritualidade necessária para fertilizar a consciência social. É uma celebração de fé para reforçar laços familiares, de amizade e aproximar pessoas que acreditam no bem coletivo e afastam a individualidade, tendência sinalizada pelo sectarismo crescente nos países mais ricos.

            O mundo vive diferentes ondas de violência. Propostas extremistas surgem para confundir quem se preocupa apenas no conforto pessoal. As sedutoras tecnologias que podem ampliar a inteligência humana são também usadas para multiplicar práticas desonestas, nas mais elevadas esferas de poder.

            Tudo depende do coletivo social que está por traz do uso de cada instrumento. Por tudo isso, ao celebrar o nascimento de Jesus, não podemos esquecer das lições do ano que termina. É preciso se esforçar para superar essa onda repugnante de corrupção e desânimo que assola o País.

            Que o clima natalino traga conforto espiritual, multiplique sonhos e restabeleça a esperança na edificação de uma sociedade menos vulnerável ao ataque de corruptos e corruptores. Ainda é tempo de acreditar na democracia e nas instituições, com um olho no peixe e outro nos gatunos de plantão, nos poderes instituídos, sem esquecer da ameaça tramada por legisladores noturnos que viram as costas para sociedade. Que as nossas próximas escolhas sejam mais iluminadas para separar o trigo do joio.

            Roguemos proteção aos céus para, conscientemente, celebrar mais este natal, simbolizando o eterno renascimento do filho de Deus, em cada um de nós, com a leveza dos cânticos angelicais, com a ceia possível e com os pés no chão, sem nos deixar iludir por discursos falaciosos ou promessas fantasiosas, que ameaçam a probidade de muitos dos atuais representantes dos principais poderes da Nação.