Folhetim: A Vingança de Beta - VII

O malandro se voltou e viu Beta que passava gingando, bem tranquila enquanto alguns estudantes assoviavam. Ela estava abafando. A reacão de Durval foi assoprar puto da vida. Os senadores olhavam para ele e para ela e não podiam conter o riso. Ele não disse uma palavra, retirou-se cabisbaixo e atirdoado. Ia tomar umas lapadas para estabilizar os nervos.

Mas Beta ainda não estava satisfeita. Queria mais. Ela enquanto costurava gostava de ouvir programas e novelas no rádio, tanto nas rádios do Recife como do Rio de Janeiro. Chegava até a escrever constantemente para as rádios. Quem colocava as cartas no Correio era Durval, ela nunca quis ir lá para não constranger Geraldinho. Porém, agora, como queria se vingar, provocar o marido, sem medir as consequências, passou a ir todos os dias ao Correio para botar as cartas para as rádios. E só aparecia toda produzida, nos trinques. Ela sabia que ali havia uma coroa muito chata, chanada Glorinha, que era doida varrida por Durval, mas como era feiosa ele não ligava para ela. Beta tinha certeza que Glorinha iria contar ao malandro a novidade. Para que a fuxiqueira carregasse ainda mais nas tintas forçou a barra para falar com Geraldinho.

Na primeira vez apenas o cumprimentou e sorriu faceira; ele se assustou tanto que assim que ela saiu, ele teve um acesso de asma e foi preciso inalar "Pó Indiano" e tomar uns cachetes de Asmac e Filinasma. Na segunda vez perguntou pela mãe dele; na terceira puxou assunto relacionado com a demora na resposta das cartas, se fazendo de preocupada e dizendo com a voz aveludada que ele tanto adorava:

- Geraldo, meu querido(era assim que ela o tratava no tempo do namoro), fico numa aflição danada, doida para receber as respostas das minhas cartas sobre os programas e nada. Será que não enviei para o endereço certo? Mas eu copiei com tanto cuidado da Revista do Rádio.

Eram observações ingenuas mas que encantavam o telegrafista. Depois já batiam longos papos, riam, comentavam banalidades, ele ouvia muito mais do que falava. Batava-lhe contemplar a sua figura, os seus gestos, a alegria que ela irradiava. Geraldinho no início ficou surpreso, mas da surpresa passou à admiração, aquela mulher tinha brio. Inteligente, ele entendeu que ela estava querendo apenas se vingar do marido pelo que ele aprontara. Não achava correto participar daquilo, mas não podia se negar a conversar com ela, porque, pombas, gostava demais dela, até mais do que antes, e ela estava nais bonita, bela, belíssima, pensou, enquanto sentia uma coceirinha na farganta, um aviso que a asma estava chegando.

Claro que Glorinha contou tudo a Durval, chegou mesmo a enfeitar o maracá:

- Nunca vi escrever tanta carta como a tua mulher, acho que ela passa mais tempo escrevendo que costurando. O pobre do Geraldinho não tem mais tempo nem para transmitir e nem para receber os telegramas que ela não deixa, conversam horas e horas, nunca vi ter tanto assunto. Às vezes até cochicham, trocam segredinhos e ela sempre chama ele de meu querido. E só aparece enfeitada e perfumada. O coitado do telegrafista que, como você sabe, é asmático, aspirando aquele perfume e deslumbrado por ela, é ela sair e ele tem um acesso de asma.

Durval ficou muito sperriado. Contou o fato a Francisquinho, só tinha coragem de conversar sobre os problemas com a mulher com o seresteiro. Francisquinho que era membro do partido comunista, do qual também participava Geraldinho, disse sério:

- Por Geraldinho boto a mao no fogo. Voce sabe que Beta está fazendo essa onda toda só pra lhe fazer ciúme. Um quadro sério do partido como Geraldinho, não se aproveitaria de uma situação dessas - e foi duro - ele não é como você, Durval.

Durval também foi duro:

- Eu sei que Geraldinho é direito e que eu sou torto, mas se ele se aproveitar dela, Chico, eu mato os dois.

O seresteiro nunca vira o malandro tão transtornado.

Continua

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 16/02/2017
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