Folhetim: A Vingança de Beta - V

Durval tentou por todos os meios a reconciliação. Impedido de ir á casa da sogra, o malandro perdeu o orgulho e apelou para vários intermediários, a inclusive sua comadre, Dona Estela, esposa de Seu Dino que mesmo tendo dito nas ventas do compadre que ele procedera muito mal com a mulher, foi até Beta tentar demovê-la da separação, mas a mulata permaneceu infexível, a sua resposta foi que ainda não tinha feito nada de mais, mas que o malandro do marido não perdia por esperar. Quando soube da resposta ele ficou ainda mais aflito e balbuciou:

- Mas comadre, que vingança é essa? Será que ela quer me matar de aperreio?

Dona Estela disse que não, na certa ela queria apenas mostrar que podia passar uns tempos sem ele, que estava magoada e com justa razão. Outras pessoad cumpriram a mesma missão e voltaram com a mesma resposta. O último intermediário foi o padre João, confessor de Beta. Na volta ele disse a Durval:

- Paciência, meu filho, deixe a raiva dela passar, dê tempo ao tempo. Agora, uma coisa é certa, a sua sogra - disse rindo - pode ser muito dura e não gostar de você, mas que ela faz um bolo de rolo divino, disso não tenho nenhuma dúvida, comi o bolo quase todo.

Durval, triste, disse:

- Padre, esse bolo que o senhor comeu não foi feito por aquela megera não, foi feito por Betinha - já estava se referindo à mulher no diminutivo - , ninguém faz esse tipo de bolo como ela.

Fracassada a tentativa de reconciliação via terceiros, ele começou a tocaiá-la, até que um dia, quando ela foi ao armarinho comprar uns botões, ele tentou conversar com ela. A mulata lhe virou o rosto, ele insistiu e ela então lhe disse enraivecida:

- Olhe, seu porra, se você continuar me importunando eu dou parte de você. Com você eu não quero mais nada. Vá procurar as putas.

Ele concluiu que não conseguiria dobrar a mulher no papo, aliás, não sabia o que fazer para que ela o perdoasse.

Dias depois, no Bar Acrópole, num sábado, dia que os boemios se reuniam para curtir uma seresta, comandada por Francisquinho, o seresteiro, o dono do bar, fã de Biencenido Granda, pediu a Francisquinho para cantar a música "Oración Caribe", quando o seresteiro cantou os versos quem traduzindo para o português diziam: "Piedade, piedade para os que sofrem, piedade, piedade para os que choram e um um pouco de calor em nossas vidas, e um pouquinho de luz em nossa aurora", o malandro coneçou a chorar. O cantor parou, começou a cantar Segredo: "Seu mal é comentar o passado...", ele voltou a chorar. Então Dedé Bravo já bicado, puto com o chororô de Durval, emendou mesmo sem acompanhamento: "Maria Betânia, tu és para mim a senhora de engenho.,,", Durval se levantou brabo, mas Francisquinho acalmou os amigos e disse a Durval:

- Durval, meu velho, para bocê não chorar só se a gente cantar músicas da igreja, todo o nosso repertório vai fazer você lembrar Beta. Lembrar e chorar.

Continua

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 16/02/2017
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