Folhetim: A Vingança de Beta - IV

Beta nem ouvia o desabafo venenoso da beata. As lágrimas escorriam nas duas faces. A decepção somava-se á raiva. Ela estava vendo o marido traindo-a publicamente. Aquilo era, sim, um desrespeito. Durval quando a viu ficou pálido, pasmo, perdeu todo o rebolado, a bebedeira passou na hora subdtituída por uma agonia incrível. Ficou completamente imobilizado, não sabia o que fazer, continuou abraçado a Didinha, sem força para reagir, mas viu nos olhos da mulher um ódio que ele não conhecia. Mas não disse uma única palavra, retirou-se para a padaria, comprou o pão e foi para casa. Mas não era a mesma, não se conformava com a humilhação. Decididamente não era mais a Amélia do samba. Ia dar uma lição inesquecível a Durval.

A primeira providência que ela tomou, naquilo que Dedé Bravo denominou de "Operação Vingança", foi se mudar com os filhos para a casa da mãe. Ficando lá sabia que Durval não apareceria porque a mãe dela queria ver o cão, mas não o genro. Levou toda a sua roupa e as das crianças, e de objetos da casa só a máquina de costura. Quando os vizinhos viram a carroça levando a máquina cochicharam aprovando a medida, deduziram que desta ceita o malandro tinha ido longe demais. Mas ela precisava dizer algo a Durval. No final da tarde voltou a casa, ele estava sentado numa cadeira, triste, só de calção e com uma ressaca braba. Ele quando a viu quis falar, mas ela não permitiu, dizendo indignada:

- Durante cinco longos anos aguentei calada suas cachaças, safadezas e traições. Trabalhei feito uma escrava na máquina de costura para manter a casa. Costurei sua roupa, lavei, engomei e cozinhei. Com o que ganho na máquina sustentei você de tudo. Nunca reclamei porque fui eu quem escolhi essa droga de vida e também porque você me respeitava pelo menos em público, mas hoje diante dos meus olhos e na presença de várias pessoas você me desrespeitou, procedeu como um cafajeste, mostrou wuem você realmente é: um vagabundo escroto e ingrato. Mas você vai me pagar. Eu juro pelos nossos filhos. Não me procure mais, se vire com as suas raparigas, seu nojento.

Bateu a porta e saou. Durval ficou aparvalhado. Nunca vira a mulher daquele jeito, braba que nem um siri. Sentiu-se tonto, a cabeça latejando, vomitou, a ressaca era mesmo braba e, aliadaao problema com a mulher, transformara-se em calamidade. E Beta não estava em casa para cuidar dele. O que o consolava era a esperança que a raiva dela passasse. Amaldiçoou a hora que se metera com a condessa do Casablanca. Que bobagem, pensou, desfilar com ela da zona até a rua e dar um espetáculo público. Sim, tinha certeza que pisara na bola, ferira sua mulher, se portara como um amador irresponsável, como um moleque. Nunca mais isso secrepetiria, prometeu a si próprio.

Beta não voltou no outro dia e nem na outra semana. Depois de 15 dias. Durval estava quase desesperado, comendo mal, às vezes de favor, s roupa amarfanhada, suja, a barba por fazer, triste, nervoso, liso. Era a imagem do arrependimento. Se este matasse ele estaria morto. Os amigos, mesmo sabendo de tudo, não comentavam nada com ele, seria constrangedor, se ele não se abria era porque não queria que ninguém tocasse no assunto. Mas todos estavam preocupados. O malandro estava na pior. Francisquinho comentou com Seu Dino:

- Sem o apoio de Beta, Durval não é ninguém. Ele está num sinuca de bico.

Seu Dino balançou a cabeça como quem diz "é danado". Ele sabia que Beta era uma mulher de fibra. Fora amigo do pai dela, o marcineiro getulista que tinha um temperamento ameno, mas que quando sofria uma injustiça, dai de baixo, se transformava numa fera. A filha tinha as mesmas características do pai. Seu Dino resumiu sua opinião;

- Eu acho, Chico, queba coisa vai é piorar. Beta vai pintar o diabo com Durval. Ela puxou ao pai.

Ele sabia o que estava dizendo.

Continus

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 15/02/2017
Código do texto: T5913802
Classificação de conteúdo: seguro