VIGARISTA SEM VERGONHA
É esse o título que cabe à protagonista do caso a seguir:
Hoje (15/02/2017) precisei ir ao centro da cidade e, como sempre, fui de ônibus. Bem mais simples e de fácil acesso.
Embora não concorde integralmente com a gratuidade a que tenho direito (depois eu explico) subi pela porta dos que não passam pela catraca. No ponto seguinte uma senhora de idade indefinida, subiu demonstrando grande dificuldade e portando bengala.
Sentou-se ao meu lado no banco destinado aos idosos (minha categoria), obesos, deficientes, grávidas e pessoas com criancinhas de colo.
Uma vez acomodada, retirou de dentro da bolsa um telefone que faz de tudo, inclusive, mas raramente, ligação de voz e abriu um desses sites com textos bíblicos.
Quando chegou perto da parada em que ela ia descer, pediu a uma pessoa que estava de pé para dar sinal e, com a mesma dificuldade da subida, ficou de pé junto à porta.
Acontece que de uns tempos para cá os motoristas da linha T27 – Condomínio Maracanã – têm que se virar para dar conta dos serviços de condutor do veículo e de cobrador e, talvez por isso, não parou no ponto, apesar do letreiro estampar – Parada solicitada – fato que foi motivo bastante para a mulher gritar em altos brados que era para parar que ela precisava descer.
Mais adiante, parado fora do ponto o motorista abriu a porta, ela desceu normalmente e saiu correndo pela calçada, fato esse que chamou a atenção de todos os passageiros que estavam por perto de mim e que presenciaram a encenação da dificuldade de locomoção entre a cadeira e a porta.
Esse comportamento vergonhoso que está se tornando corriqueiro na sociedade atual nos faz imaginar quanto tempo falta para termos uma sociedade civilizada.
Como podemos exigir retidão de caráter dos governantes se o povo age cinicamente para burlar as mínimas obrigações?
Para não pagar a passagem, a mulher se permitiu esse ato que em tudo contrasta com os princípios de honestidade da fé cristã que ela estava lendo numa demonstração clara de hipocrisia ou falta de vergonha.
Até concordo que a qualidade do serviço não justifica o preço da passagem (R$ 4,20) que é alto para quem ganha salário mínimo, mas para essa categoria de trabalhador há o benefício do vale transporte, limitado a 6% do valor do seu salário, independente de quantas passagens tenha que pagar durante os dias úteis do mês.
Há que se considerar que nesses quatro reais e vinte centavos estão incluídas todas as gratuidades que é o motivo da minha discordância desse benefício (eu disse lá em cima que depois explicaria) porque se houvesse lisura na planilha de custos, se fossem menores os encargos que incidem sobre a folha de pagamento da categoria que executa serviço de utilidade pública, se os impostos sobre combustíveis fossem menores, se as peças de reposição e taxas de licenciamento dos ônibus do serviço coletivo não fossem absurdas, e se todos pagassem pelo uso do serviço como ocorre no resto do mundo, o preço da passagem estaria bem menor e ao alcance de todos.
Definitivamente temos que dar um basta nesse Estado paternalista que foi criado pela constituição de 1988, onde todos têm direitos, direitos, direitos, mas sem os deveres correspondentes.
Já está mais do que provado que o Estado não tem capacidade operacional para atender a todas as demandas da sociedade.
Exemplo disso são os medicamentos de uso contínuo que de tanto ouvir que estavam em falta, resolvi comprar os que eu estou condenado a tomar pelo resto da vida, e não mais retirar nas unidades de saúde estadual e municipal, os quais eu tenho direito, conforme diz a lei.
Tem o direito de retirar, mas não leva porque está em falta, sempre.
Por serem de caráter estratégico, Educação e Segurança deveriam ser as únicas obrigações do Estado para com a sociedade.
O resto deve seguir o ditado popular – quem pariu Mateus que o embale – quem não pode sustentar família deve abster-se de constituí-la e quem não tem dinheiro para pagar a passagem que vá a pé ou arrume o que fazer e fique em casa.