Folhetim: A Vingança de Beta - II

Durval suara muito para conquistar Beta. A mulata bonita, antes de se apaixonar e casar com ele, fora namorada de Geraldinho do Correio, um amigo do peito do boêmio. Ainda se falavam mas Geraldinho nunca o perdoou por ter roubado sua namorada. Os amigos diziam que Geraldinho havia piorado da asma depois que perdera Beta. O choque fora tremendo. Durval fugira com a sua namorada, quase noiva, sem nenhum aviso, nem a mãe dela soube de nada. Quem evitou que Geraldinho fizesse uma besteira fora Seu Dino, amigo dos dois e muito respeitado por eles. Chamou-os a sua casa e, na ocasião, fez ver a Durval que ele fora desleal, mas também disse a Geraldinho que se a moça gostava de Durval, paciencia, não havia o que fazer, que uma amizade como a deles não podia acabar devido a esse lamentável episódio. A mãe de Beta nunca perdoou a filha e muito menos Durval - a quem sempre destratava. A velha gostava era de Geraldinho, torcera muito para que a filha tivesse se acertado com ele porque achava-o sério, trabalhador e avesso à boêmia. Ele não casara, tivera algumas aventuras, nada fixo. Na verdade nunca esqueceu Beta. Quando ouvia a música Maria Betânia, de Capiba, chorava. Os amigos sabiam disso , e um deles, o seresteiro, Francisquinho, só cantava essa música se ele não estivesse presente. Beta sentiu muito ter deixado o namorado sem nenhuma explicação, a paixão por Durval fora tão forte que fê-la perder a razão.

Mas mesmo as mulheres mais calmas e pacientes, até mesmo as "Amélias", podem um dia se revoltar. Para azar de Durval foi o que aconteceu com Beta.

Tudo começou quando Didinha, a condessa descalça do Casablanca (este apelido se devia ao fato de muitas pessoas acharem que ela parecia com a personagem de Ava Gardner num filme famoso) rompeu o seu caso com Dedé Bravo, amigo íntimo de Durval, este, inteirado do rompimento, considerou-se candidato natural ao posto de amante principal da condessa. Mas não foi nada fácil conseguir esse posto. Ela até simpatizava com Durval, mas o achava muito convencido, aí a principio começou a bancar a difícil ou, como se dizia baquele tempo, a cu doce. Para aceitar dançar com o malandro, no cabaré, chegava a botar a famosa "trava", como faziam as mocinhas virgens nos bailes família. Francisquinho, o seresteiro, quando soube das dificuldades do malandro disse: - Que negócio é esse, malandro, essa dona tá te esnobando direitinho.

Ele continuou assediando Didinha até que ela lhe fez uma proposta surpreendente: - Tá bem, seu malandro, du trepo com você. Agora tem uma condição, você me arruma umas três lanças-perfume Rodouro. Tem que ser Rodouro, outra marca nào serve. Eu tô doida pra tomar uns porres e recordar carnavais do passado. Durval quis se arretar, mas como estava doido para deitar com a condessa, queria saber se ela era mesmo boa de cama como diziam, resolveu se submeter à exigência dela. Começou a bater oernas procurando as lanças, isso no mês de novembro, distante do carnaval. Foi aí que Francisquinho se lembrou que um amigo de Seu Dino, Rubinho do Mercado, recera há tempos umas caixas de lanças como parte de uma dívida. O malandro pediu a intercessão de seu compadre e foi tiro e queda: conseguiu as lanças. Quando recebeu disse ao compadre: - mestre Dino, meu compadre, meu débito com vosmicê aumentou muito, mas um dia eu pago e com juros.

Continua

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 15/02/2017
Código do texto: T5912878
Classificação de conteúdo: seguro