Folhetim - A Vongança de Beta - I

Durval era muito benquisto em Canaã. O se gênio bom, seu humor que contagiava a todos, as piadas que contava, tornavam-no uma figura popular. Era o exemplo do boa vida. Fiscal da prefeitura, nunca fiscalizara nada, só ia na repartição receber o ordenado. Boêmio inveterado, a sua vida se resumia às farras nos bares e no cabaré, ao jogo de sinuca e, principalmente ao assédio ás mulheres; estas o seu maior prazer. Só andava bem vestido, de terno branco de diagonal da Torre, bem engomado, engravatado, os sapatos brilhando e sempre com uns trocados no bolso.

Claro que todos sabiam que quem sustentava a casa era a sua mulher, Beta. Ela vivia dia e noite trabalhando numa máquina de costura para sustentar Durval e os três filhos. Era a melhor costureira da cidade. Era inclusive quem fazia os ternos de Durval. Seu Dino, padrinho dos filhos dele, sempre dizia: - A comadre é uma santa, Durval, cuidado para ela não se cansar. Você não sabe e nem dá valor a jóia de esposa que possui. O que seria de você se perdesse Beta? Ele apenas ria, achava normal a mulher ser submissa àquele tipo de vida. Sabia que ela gostava dele, que a satisfazia, era carinhoso com os filhos e, prnsava com seus botões, "que mais uma mulher pode querer?".

Beta, o seu nome de batismo era Maria Betania, fora muito bem criada. Os pais mesmo pobres, haviam lhe dado uma boa educsção, fizeram o que lhes foi possível para educà-la. O pai, um marcineiro getulista fanático, morreu tuberculoso, mas a esposa que era excelente costureira manteve a filha condignamente, ela não concluiu o curso normal porque inventou de casar com Durval, fato que a mãe dela nunca assimilou. Beta era morena mesmo, mulata, muito bonita, cabelos lisos de índia, alta, elegante nata, olhos verdes, mas não usava enfeite nenhum, não colocava nem batom nos lábios. Mesmo costurando muito bem - trabalhava para quase todas as pessoas ricas e remediadas da cidade - vestia-se simplesmente, raramente era vista nas ruas. Resolvera viver unicamente para sua casa, decisão que agradara em cheio ao marido. A única diversão dela era ir à missa dos domingos e visitar aos sábados sua comadre, Dona Estela, mulher de Seu Dino. Nas quatro festas do ano saía com os filhos para dar uma volta na praça. Só. Era feliz nessa sua vidinha simples.

De vez em quando recebia denúncias do marido, sabia que quase tudo que contavam era verdade, mas gostava muito dele e não casara inocente. Respondia às fuxiqueiras: - O que os olhos não veem, o coração não sente, enquanto ele não me desrespeitar na minha vista eu vou aguentando. Às vezes ficava irritada quando ele chegava bêbado com a roupa com manchas de batom; nessas ocasiões dizia-lhe algumas verdades, mas ficava nisso, a raiva passava logo. Quando ele acordava, brincava com os filhos, fingia-se de esquecido e a paz voltava ao lar. Ele sabia que ela gostava de ouvir frases romänticas, então dizia algumas, dava-lhe uns beijinhos no cangote, cumpria seus deveres normais de cama e, pronto, estava tudo resolvido, ela ficava satisfeita e voltava para a máquina de costura, mas antes passava pela cozinha para fazer uma comidinha gostosa para o seu boemio e, não raro, ia ao tanque lavar a roupa dele que estava suja de batom. Quando ele ia sait ela sempre lhe dava uns trocados. Fazia isso mesmo sabendo que ele iria repetir o mesmo ritual. Ela se acostumara com aquela vida. A mãe dela sempre lhe dizia: - você é igualzinha à Amélia do samba.

Continua

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 14/02/2017
Código do texto: T5912649
Classificação de conteúdo: seguro