PLANTANDO AMOR

É tempo de chuva. O vento frio balança as folhas molhadas das árvores. O céu passa mais tempo entre o branco e o cinza, a temperatura cai. E a chuva, essa derrama-se com gosto, molha o chão, as plantas, faz várias poças de água pelo caminho....

A quem se deu ao “trabalho” de ler essas primeiras linhas, talvez tenha tido a impressão de que se está tratando de um cenário de inverno, a estação que antecede a bela e colorida primavera. No entanto, o que estamos tentando pintar é um dos períodos do ano em que a imponente e primorosa Amazônia abastece de águas os seus rios, esverdeia suas matas e limpa os seus ares com um volume de chuva consideravelmente maior do que os demais períodos do ano.

Em todo esse cenário, porém, o que me tem cativado o olhar e os sentidos é uma única árvore, apenas uma. Não tão grande como outras tantas de sua espécie, mas nem por isso menos bela e acolhedora.

Essa árvore fica em um singelo jardim, plantado a muitas mãos ao longo do tempo. Um jardim que foi sendo emoldurado ao longo de anos, regado com água e amor.

Lembro-me de que, quando essa mesma árvore chegou, era um “bebê”, um pequeno pé de manga, que veio com as suas raízes enfiadas em um saco de terra e adubo.

Já tínhamos uma mascote em casa, nossa adorável e ciumenta cachorrinha “Lady”.

Meu pai trouxe a pequena mangueira nas mãos, decidiu, fazendo os seus breves cálculos, onde deveria plantá-la e anunciou: “quando ela estiver crescida, dará sombra e frutos, e eu terei cumprido mais uma missão na Terra”.

Não foram tão fáceis os primeiros dias da jovem plantinha. A Lady, cheia de desconfianças de que lhe sobraria o “canto” da casa e dos nossos corações, tratou de pôr em prática vários e seguidos planos de arranca-la dali.

Mas, meu pai, com o mesmo entusiasmo e persistência com que se punha a mergulhar em livros e pesquisas, tratou de protege-la dia-a-dia das investidas de um ciúme de quatro patas.

Hoje essa mangueira dá sombra e, após alguns anos, começou também a dar frutos, doces e apetitosos frutos.

Nesse “inverno” amazônico, olho para o alto e vejo os seus galhos molhados balançando-se ao sabor do vento, vejo a sombra que eles produzem, sinto o sabor adocicado de seus frutos e agradeço a persistência de meu amado pai.

Se existe um lugar onde a paz me invade, o sentimento de acolhimento e tranquilidade tomam conta de mim, esse lugar é sob a sombra da mangueira, da nossa mangueira. Aquela que com muito amor foi plantada, cuidada e mantida naquele nosso singelo jardim.

Érica Cinara Santos
Enviado por Érica Cinara Santos em 14/02/2017
Reeditado em 16/02/2017
Código do texto: T5912499
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